Facção que movimentou R$ 500 milhões é alvo de operação no RS; 17 fazendas são confiscadas

Operação Beatus mira esquema de lavagem de dinheiro comandado por foragido da Justiça

Operação Beatus mira esquema de lavagem de dinheiro comandado por foragido da Justiça | Foto: Polícia Civil

Mais de 200 policiais civis cumprem, na manhã desta quarta-feira, 48 buscas e 17 ordens de prisão preventiva no Rio Grande do Sul, Paraná, Tocantins e Mato Grosso do Sul. Intitulada Operação Beatus, a ofensiva mira integrantes de uma facção que movimentou, desde 2023, mais de R$ 500 milhões, sendo que a estimativa é que a soma circulante ultrapasse R$ 1 bilhão. Oito pessoas foram presas

A ação é do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), através da Delegacia de Repressão à Lavagem de Dinheiro.

Os mandados judiciais são cumpridos em Porto Alegre, Canoas, Alvorada, Cachoeirinha, Novo Hamburgo, Parobé, Charqueadas, Montenegro, Capão da Canoa, Imbé, Gravataí, Gramado e em Palmares do Sul, além de Curitiba (PR), Paraíso (TO) e Corumbá (MS).

Foram decretadas ainda, em relação a 34 pessoas físicas e jurídicas, 132 medidas de afastamentos de sigilos bancários, financeiros, fiscais e telemáticos, e mais outras 131 sequestros de bens.

Estão sendo indisponibilizadas 17 fazendas com grande extensão no interior do Rio Grande do Sul, algumas com pista de pouso, e outros 11 imóveis de luxo na Região Metropolitana, Porto Alegre, Serra gaúcha e Santa Catarina, juntamente com as apreensões de veículos de luxo (dentre eles Land Rover, caminhões, BMW, Tiguan, Nivus, Evoque), bem como bloqueios de contas de 29 pessoas físicas e jurídicas no sistema bancário.

A apuração policial apontou que o modus operandi da célula criminosa, chefiada por um líder estadual de uma facção com base no Vale do Sinos, é a realização de centenas de operações dissimuladas no sistema financeiro, com pulverizações diárias entre seus integrantes, bem como mescla em empresas reais, criação de empresas de fachada, colocação de sócios laranjas, integração de capital ilícito, inserção de dados falsos nas declarações junto a Receita Federal, confusão patrimonial dolosa, afastamentos em investimentos difusos na economia, como cooperativas, fundos, “empresas de prateleira”, fintechs, ocultação de bens, dentre outras tipologias complexas.

Provas angariadas confirmaram que a organização atua como um emaranhado doloso no sistema bancário, com centenas de transações trianguladas, fracionadas, e mediante inúmeras falsidades junto a bancos. O Denarc chama atenção para o cuidado que os suspeitos tinham para não serem detectados pelos serviços de prevenção e controle dos bancos, combinando valores, transações discretas e modalidades de burlas mais eficientes para evitar apontamentos, demonstrando elevado conhecimento das rotinas de compliance/prevenção no sistema financeiro e de empresas com as quais mantinham negócios para a compra de bens em ocultação.

Ainda, utilizavam códigos em seus nomes e diálogos para evitar identificação, bem como demais falsidades junto a operadoras de telefonia, bancos tradicionais e digitais.

Além disso, a divisão de tarefas e hierarquia era como uma grande empresa, com o seu líder determinando a três gerentes financeiros, a administração e gestão dos ativos ilícitos, mediante as condutas descritas acima, em coautoria com demais operadores financeiros e laranjas descobertos, dentre eles, empresários, comerciantes e profissionais liberais, alguns sem antecedentes criminais, outros já indiciados por tráfico de drogas e estelionatos – todos com prisões preventivas decretadas e bens bloqueados.

Dentre as pessoas jurídicas investigadas e algumas já com ativos bloqueados, temos revendas de veículos, supermercados e empresas de fundos/participações, serviços gerais e de saúde.

O líder, com prisão preventiva decretada no dia de hoje, está atualmente foragido; durante a investigação, foi comprovada ainda a intenção do mesmo de sempre tentar burlar a fiscalização judiciária de uma execução de pena anterior.

Segundo o delegado Alencar Carraro, Diretor de Investigações do Denarc, a Operação deflagrada no dia de hoje restou exitosa após intensos trabalhos de análises e demais diligências, sendo a maior da história da Polícia Civil gaúcha em sequestros de ativos oriundos da distribuição de drogas.

Para o delegado Carlos Wendt, Diretor Geral do Denarc, a estratégia de prender e descapitalizar grandes lideranças e seus operadores vem sendo intensificada pelo departamento nos últimos anos, reprimindo tais delitos com investigações especializadas, propiciando ações penais com justas e céleres condenações.