Mais de 11 mil itens produzidos por meio de mão de obra prisional foram doados para famílias que perderam tudo devido a chuvas e enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul. De acordo com a Polícia Penal gaúcha, desde maio, a massa carcerária confeccionou 216 móveis, como berços, camas e armários, 287 casinhas para cachorros e aproximadamente 1,5 mil rodos de madeira para limpar o rastro de lodo que a água deixou. Também foram produzidas 7 mil fraldas descartáveis, 2 mil barras de sabão e mais de 400 roupas de cama.
Os itens de madeira, como móveis e camas, foram fabricados em diferentes unidades prisionais ao redor do estado. A produção ocorreu através de oficinas de marcenaria instaladas nas penitenciárias de Canoas 1 (Pecan 1), Ijuí, Caxias do Sul, Venâncio Aires, Sapucaia do Sul, Modulada de Osório e Modulada de Uruguaiana. Além dessas, os presídios de Júlio de Castilhos, Sarandi, Encantado, Iraí, Canela, Cachoeira do Sul, Santiago, Três Passos e de Frederico Westphalen também foram responsáveis por parte fabricação.
Conforme o superintendente da Polícia Penal, Mateus Schwartz a população carcerária também é utilizada em trabalhos de reconstrução do estado. Ele destaca que foram mobilizados cerca de 900 detentos, que cumprem pena em 52 estabelecimentos prisionais, tanto na fabricação de itens como para a limpeza de ruas e imóveis afetados por enchentes.
“O trabalho desenvolvido nas casas prisionais tem contribuído para a superação do momento difícil que ainda estamos passando. Também contribui para o processo de reinserção social das pessoas privadas de liberdade e, consequentemente, para a redução dos índices de reincidência criminal”, afirmou Mateus Schwartz.
Um exemplo da mão de obra prisional pode ser observado no Presídio de Canela, onde a oficina de marcenaria conta com o empenho de seis apenados. Ali, o foco é a fabricação berços e armários, todos feitos com materiais disponibilizados por madeireiras da Serra gaúcha.
“Me sinto feliz de poder contribuir com quem perdeu tudo. Isso [dilúvio] poderia ter acontecido com qualquer um, com alguém da nossa família, por isso é importante ajudar. Gosto muito do nosso trabalho aqui, a gente nem vê o tempo passar”, disse um dos presidiários que participa da atividade em Canela. O detento adiciona que, quando receber a liberdade, junto de um dos apenados também envolvido com a confecção dos berços, pretende montar uma pequena marcenaria no município da Serra.
O titular da Secretaria de Sistemas Penal e Socioeducativo (SSPS), Luiz Henrique Viana, ressalta que, além de auxiliar a população atingida no dilúvio, a mão de obra prisional também serve de ferramenta para a ressocialização dos apenados através do trabalho. Ele lembra ainda que os apenados que exercem alguma atividade laboral são beneficiados com a remição de um dia da pena a cada três trabalhados.
“Temos como objetivo oferecer oportunidades de trabalho aos apenados, para que aprendam novos ofícios e, no futuro, tenham mais chances de inserção profissional. O trabalho prisional não é desenvolvido apenas em momentos pontuais, como neste período em que o estado foi afetado pelas enchentes. Trata-se de um dos pilares do tratamento penal que ocorre diariamente nas unidades prisionais”, concluiu o secretário.