Um protesto reúne, nesta quinta-feira, milhares de agricultores no parque da Fenarroz, em Cachoeira do Sul, na região central. A iniciativa é coordenada pelo Movimento SOS Agro RS, que é composto por representantes de diferentes áreas do setor no estado. Os manifestantes reivindicam medidas do governo federal para atenuar os prejuízos que decorrem de desastres climáticos.
O grupo destaca que os impactos contabilizam três anos consecutivos de estiagem. Somado a isso, a safra atual ainda será prejudicada por conta de chuvas e enchentes que atingem o solo gaúcho.
As perdas se concentram em culturas como soja e arroz, além do milho em grãos e silagem. Isso porque, ainda conforme o Movimento SOS Agro RS, excesso de chuvas inviabilizou parte significativa das colheitas. A estimativa é que o dilúvio afetou, no meio rural, quase 20 mil famílias, com perdas em estruturas e propriedades. Na agroindústria, cerca de 200 empreendimentos familiares registraram prejuízos por conta da inundação.
A previsão é que no mínimo 10% da área plantada no estado foi abandonada. O que também vai acabar afetando a criação de suínos, aves e bovinos.
O presidente do Sindicato Rural de Minas do Leão e Butiá, José Fernando Almeida Vieira, estima que os dois municípios perderam perderam quase a metade da colheita.
“Nossos prejuízos estão na casa dos 40% da área plantada. O governo federal precisa entender que quem tem perdas nesse nível não consegue custear investimentos, ainda mais depois da inundação dos campos”, disse o presidente do sindicato.
Lucas Scheffer, um dos organizadores da mobilização, explica que o alagamento da terra inviabiliza o uso de maquinário para colheita. Ele também acrescenta que o excesso de água aniquila a fertilidade dos solos e que a umidade deteriora a qualidade dos grãos.
“É impossível utilizar equipamentos e máquinas em propriedades alagadas. Em outras palavras, com o solo inundado não há como realizar colheitas. Como se não bastasse, a umidade também diminui a qualidade dos grãos, ou seja, nem a pouca quantidade que for colhida será apta para comercialização”, afirmou.
Scheffer, que é produtor de grãos em Cacequi, adiciona que o movimento não reivindica anistia de dívidas. Ao invés disso, as demandas incluem a prorrogação de dos débitos, criação de uma linha de crédito com juros de 3% e prazo de pagamento de 15 anos, com até dois anos de carência.
O produtor reconhece que o Plano Safra 2024/2025 traz fôlego momentâneo ao setor, mas ressalta que o auxílio é insuficiente em relação ao prejuízo acumulado nos últimos três anos. Anunciados na quarta-feira, os recursos ultrapassam R$ 400 bilhões em financiamentos, um aumento de 10% em relação ao montante da safra anterior.
A medida ainda contempla os agricultores gaúchos com condições especiais no seguro rural, com R$ 368,3 milhões, alta de 170% em comparação ao último ano. Os gaúchos alegam que apesar dos bilhões em créditos, o plano não apresenta solução para o endividamento.
“Não basta cobrir os danos que sofreremos neste ano. Seria preciso que o auxílio também compreendesse as dívidas que estão acumuladas desde 2020. São três anos de perdas. O valor do prejuízo é imenso e ultrapassa o que foi previsto do Plano Safra”, disse Lucas Scheffer.
Gedeão Pereira, presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), também fez críticas em relação ao Plano Safra e disse que dialoga com os ministros da Reconstrução, Paulo Pimenta, e da Agricultura, Carlos Fávaro, em busca de soluções para as demandas da categoria.