A Polícia Civil indiciou nove pessoas físicas e quatro, jurídicas, pela morte de animais durante a enchente. Os suspeitos são funcionários de pet shops e agropecuárias em Porto Alegre. Eles foram indiciados por crimes ambientais.
Sete investigados trabalham em duas lojas da Cobasi, nas avenidas Praia de Belas e na Brasil. Os outros dois, são empregados de um estabelecimento na avenida Júlio de Castilhos, no Centro Histórico.
A investigação aponta que, a partir do dia 3 de maio, os lojas teriam fechado às portas e mantido os animais (roedores, peixes, aves) no interior dos estabelecimentos, em condições insalubres.
No dia 11 do mesmo mês, voluntários entraram em uma unidade da Cobasi na Avanida Brasil, após denúncias que lá estariam sendo mantidos animais. Diversos bichos foram resgatados e entregues às responsáveis pela loja, que remanejaram estes animais para outra unidade. Entretanto, alguns não resistiram aos vários dias isolados e vieram a óbito. Foram indiciadas três gerentes locais, que tinham poder decisório sobre a loja foram indiciadas, uma gerente regional e uma responsável técnica.
De acordo com a Polícia Civil, as gerentes investigadas relatam que deixaram comida e água em maior quantidade para os animais, e que acreditavam que a situação não perduraria por muito tempo. Entretanto, após o alagamento da região, que inviabilizou o acesso à loja, os animais ficaram diversos dias sem comida, água, luz, em local totalmente insalubre. Vídeos feitos pelos resgatistas, mostram peixes já em óbito e outros buscando oxigênio na superfície, além dos comedouros de gaiolas vazios.
No último dia 19 de maio, após liminar concedida em ação civil, outra loja da Cobasi, localizada no Shopping Praia de Belas, foi denunciada por manter os animais no local. Os bichos estavam no subsolo, que havia sido completamente alagado. Foram coletas de 38 carcaças de animais na água, mas a suspeita é que mais de 170 tenham morrido. Três gerentes da unidade foram indiciadas.
“Foi possível visualizar que eletrônicos haviam sido remanejados do subsolo para o mezanino, que não foi atingido pela água. Além disso, as duas unidades fazem parte da mesma rede nacional, com faturamento bilionário anual, e mesmo assim não realizaram qualquer atitude para retirar os animais antes da enchente, ou ainda, para resgatá-los quando a água já acessava as lojas”, disse a titular da DP do Meio Ambiente, delegada Samieh Saleh.
Além da Cobasi, no dia 15 de maio, foi a vez de uma ONG identificar uma loja – de outra rede – na avenida Júlio de Castilhos, onde diversos animais estariam sendo mantidos, também desde o início do alagamento. Neste caso, 65 animais foram resgatados, sendo que pelo menos quatro já estavam em óbito. Dois funcionários foram indiciados.
O que diz a Cobasi
Em nota, a assessoria de imprensa da Cobasi declarou que os funcionários deixaram a loja do shopping Praia de Belas de forma emergencial e que não houve condições de acesso seguro devido ao nível da água. A nota não revela quantos animais foram abandonados.
Sobre a morte de animais na loja da avenida Brasil, a empresa informou que um pássaro e três peixes “não resistiram a tragédia”.
Sobre as ações realizadas desde o agravamento da situação no Estado, a Cobasi declarou que “está focada em ajudar no bem-estar dos animais”. Com o auxílio da ONG Anjos de Patas foram doados duas toneladas de ração, 327 camas, 263 comedouros, 150 litros de produtos de limpeza. Além de caixas e bolsas de transporte, roupas cirúrgicas, petiscos, roupinhas, cobertores, colchonetes, antipulgas e vermífugos.
A pet shop também informa que 14 lojas no Rio Grande do Sul estão recolhendo itens para pets e doando a Ongs parceiras que atuam na região. E que 24 lojas de São Paulo, uma do Rio de Janeiro e uma de Brasília estão arrecadando – além de doação para pets – água, itens de higiene e beleza, roupas íntimas, roupas de camas, colchonetes, fralda e leite em pó.
Em uma nota de esclarecimento enviada pelo Shopping Praia de Belas, o estabelecimento informou que “comunicou o lojista em relação ao risco de alagamento severo da loja e ofereceu toda assistência necessária para o acesso ao local.”
Confira a nota na íntegra:
A loja Cobasi Praia de Belas teve de ser deixada de forma emergencial, seguindo as orientações das autoridades locais. Foi garantido que os animais estivessem seguros e com o necessário para a sobrevivência até o retorno dos colaboradores que considerávamos ser breve. Mas a tragédia foi sem precedentes e, apesar das tentativas constantes da empresa nos últimos dias, não foi possível o acesso seguro à loja devido o nível da água. É com pesar que a Cobasi comunica a perda das vidas dos animais que estavam no local. A empresa seguirá atuando com as ONGs de proteção animal, da região e de todo o país, para salvar as vidas que pudermos, enquanto lamentamos aquelas que não pudemos salvar.