Polícia recapturou, em menos de um mês, quatro líderes do narcotráfico retirados da Pasc após ordens da Justiça

Envolvidos em homicídios, detentos da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) fugiram ao ganhar benefício de regime domiciliar ou após revogação de prisão preventiva

Foto: Sue Gotardo / SJSPS / Especial / CP

Apontado como um dos líderes da facção que atua no Vale do Sinos, Josemar dos Santos levava uma vida de luxo quando foi preso pela Polícia Civil, na última quinta-feira, em Santa Catarina. Morando em um condomínio fechado e dirigindo uma BMW avaliada em R$ 300 mil, o criminoso de 45 anos, conhecido como ‘Gandula’, estava foragido desde o dia 14 de maio, quando rompeu a tornozeleira que utilizava.

A fuga ocorreu apenas 11 dias após o traficante deixar a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). Na ocasião, ele tinha acabado de receber direito a prisão domiciliar humanitária, mesmo após ter sido indiciado por 15 homicídios e condenado a mais de 40 anos de reclusão.

Josemar dos Santos, o ‘Gandula’. Foto: Reprodução

Gandula, no entanto, não foi o único líder de facção que acabou fugindo após receber o benefício. Em menos de um mês, o criminoso foi o quarto chefe do narcotráfico recapturado pela Polícia Civil após ter sido, por ordens do Poder Judiciário, retirado da Pasc.

Antes dele, Marizan de Freitas, outro líder da mesma facção de Gandula, e Sandro Alixandro, acusado de comandar o tráfico no Noroeste gaúcho, foram presos no final de julho. Ambos, quando foram recapturados, também tinham fugido do regime domiciliar.

Vladimir Cardoso Soares, que liderou uma facção na zona Leste de Porto Alegre, foi outro foragido recapturado, no início de agosto, pelos policiais. O criminoso teve a prisão preventiva revogada e decidiu fugir quando um novo mandado, a pedido do Ministério Público, foi decretado.

Conforme destacou o delegado Heraldo Chaves Guerreiro, em coletiva sobre a prisão de Gandula, decisões do Poder Judiciário, como em alguns casos de prisão domiciliar, têm beneficiado criminosos que respondem por delitos hediondos.

“São os responsáveis por mortes que são beneficiados com esse tipo de prisão humanitária, mesmo sendo extremamente desumanos com os seus semelhantes”, declarou o Subchefe de Polícia.

Sandro Alixandro, o ‘Zoreia’

Sandro Alixandro, o ‘Zoreia’, que chefiava o narcotráfico no Noroeste do Rio Grande do Sul, foi preso no dia 24 de julho em uma praia, em Belém do Pará. Antes de ser recapturado, o traficante chegou a passar por Paraguai, Colômbia e Bolívia.

Ele estava foragido desde janeiro, quando rompeu uma tornozeleira eletrônica enquanto cumpria prisão domiciliar, mesmo tendo sido condenado há 243 anos de reclusão.

Sandro Alixandro, o ‘Zoreia’. Foto: Polícia Civil /Reprodução

Segundo preso na história – o primeiro foi ‘Papagaio’, notório assaltante de bancos, em 1999 – a conseguir fugir da Pasc, o criminoso têm um histórico de fugas reiteradas do sistema prisional e é apontado como mandante de diversos homicídios, além de responder por tráfico, roubo a joalherias, extorsão, porte ilegal de armas, entre outros delitos.

Marizan de Freitas

Marizan de Freitas foi localizado e preso no dia 30 de julho, enquanto almoçava com a companheira em um restaurante de alto padrão, em São Paulo. Segundo a Polícia Civil, ele planejava sair do país com o auxílio do Primeiro Comando da Capital (PCC).

Antes de fugir, o criminoso cumpria pena em regime domiciliar em um condomínio de luxo em Capão da Canoa, no litoral Norte. Mesmo tendo sido condenado a 38 anos de reclusão, por tráfico e homicídio, ele teve o benefício concedido por ‘razões humanitárias’ após alegar que passaria por uma cirurgia.

Marizan de Freitas. Foto: Reprodução

Duas semanas após ter sido capturado, o bandido teve a prisão domiciliar concedida pela segunda vez. Na decisão, o ministro do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) Rogerio Schietti Cruz, o mesmo que anulou provas na investigação contra um dos chefes do PCC, argumentou que a Pasc não tinha estrutura necessária para cuidar do quadro de saúde de Marizan.

Ministro Rogerio Schietti. Foto: Sergio Amaral/STJ

Após uma ação do MP, Schietti tornou sem efeito a ordem concedida anteriormente, decidindo enviar o traficante para a Penitenciária Estadual de Canoas. Ele alegou que, quando concedeu o benefício novamente ao criminoso, não sabia da fuga para a capital paulista.

Vladimir Cardoso Soares, o ‘Xu’

Vladimir Cardoso Soares, de 53 anos, que chegou a comandar o tráfico na Vila Maria da Conceição, em Porto Alegre, foi recapturado no dia 9 de agosto em Imbituba, Santa Catarina.

Investigado pela morte de dois policiais militares, ele saiu da Pasc após ter a prisão preventiva revogada pela Justiça. Preso no litoral catarinense, o criminoso estava foragido desde o dia 17 de julho, quando foi expedida uma nova ordem de captura, graças a um requerimento do MP.

Vladimir Cardoso Soares, o ‘Xu’. Foto: Polícia Civil / Reprodução

A Polícia Civil aponta também que Xu foi pivô de uma guerra do tráfico, na Vila Maria da Conceição, que resultou em diversas mortes.

Quando foi recapturado, ainda segundo a corporação, o criminoso estava em contato com traficantes da zona Sul para armar uma possível retomada do antigo território, na zona Leste.

“Ele perdeu o domínio da Conceição quando foi preso. No entanto, desde que voltou para a rua, estava se reestruturando para retomar o controle. Provavelmente, na tentativa de retomada, ocorreriam mortes na região”, declarou o delegado Gabriel Casanova, titular da Delegacia de Capturas do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).