O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu nesta segunda-feira a manutenção do parcelamento sem juros nas compras com cartão de crédito. Nos últimos dias, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que estuda frear o uso da modalidade, por meio de uma nova tarifa. No entanto, empresas e bancos temem a possibilidade.
Campos Neto citou a mudança como uma possível solução para as altas taxas cobradas no rotativo. A linha de crédito é considerada a mais cara do país, com juros médios de mais de 437% ao ano.
“O parcelado sem juros responde por mais de 70% das compras feitas no comércio. Temos de ter muito cuidado para não afetar as compras no comércio e gerar outro problema para resolver o primeiro”, disse o ministro.
Haddad afirmou haver consenso entre os bancos, o governo federal e o Banco Central de que é preciso preservar setores que dependem do parcelamento sem juro. “Nem todo mundo tem disponibilidade para fazer compras à vista”, avaliou.
Para o ministro, o foco dos trabalhos, no momento, é o crédito rotativo, “que não pode continuar como está”.
“Tenho o compromisso dos bancos públicos e privados de que essa negociação [de solução para o rotativo] tem prazo para terminar [90 dias]. Isso tem de ter prazo para terminar. O rotativo é um problema”, reforçou Haddad.
Entenda
Durante sabatina no Senado na semana passada, Campos Neto afirmou que está sendo estudada a possibilidade da criação de uma tarifa para desestimular o parcelamento sem juros de longo prazo no cartão de crédito.
“Não é proibir o parcelamento sem juros, é simplesmente tentar fazer com que ele fique um pouco mais disciplinado”, comentou. Atualmente, as compras com cartão de crédito respondem por 40% do consumo brasileiro.
Também no Senado, o presidente do Banco Central afirmou que os juros rotativos do cartão de crédito são “um grande problema” e ressaltou que a ideia é que o crédito seja direcionado diretamente para um parcelamento da dívida com taxa de juros menor, em torno de 9% ao mês.
“A solução está se encaminhando para que não tenha mais rotativo, que o crédito vá direto para o parcelamento. Que seja uma taxa ao redor de 9% [ao mês]. Você extingue o rotativo. Quem não paga o cartão vai direto para o parcelamento ao redor de 9% [ao mês]”, declarou.
Críticas
A ideia de Campos Neto de frear o parcelamento de compras sem juros por meio de uma taxa pode atrapalhar a retomada econômica do Brasil, como alerta o economista Gelton Pinto Coelho.
Para o especialista, o aumento de custos sobre o parcelamento pode levar as famílias a consumir menos. “Neste momento de retomada da economia, precisamos de mais circulação de moeda, de mais empregos e renda”, avalia.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirmou nesta segunda que o parcelamento de compras sem juros no cartão de crédito deve ser mantido. Em nota, a entidade disse que não defende a ideia de acabar com a modalidade, mas, sim, a necessidade de um reequilíbrio do custo e do risco de crédito.