Gilmar Mendes anula provas de investigação no STF contra Arthur Lira

Processo analisa supostas fraudes na compra de kits de robótica em Alagoas

Foto: Nelson Jr. / SCO / STF

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, decidiu nesta quinta-feira anular provas colhidas na Operação Hefesto – sobre fraudes na compra de kits de robótica por 43 prefeituras de Alagoas que lança suspeitas sobre o presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP).

No início de julho, o decano havia concedido uma liminar – decisão provisória, dada em casos urgentes – no sentido de suspender a investigação. À época, a decisão acolheu um pedido da defesa. Gilmar viu possível ‘violação à prerrogativa de foro’ de Lira.

A decisão agora dada pelo decano se dá após análise do mérito do caso, seguindo parecer da Procuradoria-Geral da República e um novo pedido feito pela defesa de Lira. Com o despacho, o julgamento, em plenário virtual, da Segunda Turma do STF sobre o referendo da liminar assinada por Gilmar em junho acabou sendo cancelado.

A anulação das provas não significa o trancamento da investigação contra Lira. O eventual enterro das apurações vai ser discutido no bojo do próprio inquérito, que hoje tramita no gabinete de Gilmar Mendes. A investigação começou a tramitar na Justiça Federal de Alagoas, mas acabou remetida à Corte máxima. O procurador-geral da República Augusto Aras avocou a competência para atuar no inquérito.

O presidente da Câmara comentou a decisão no Twitter. Lira se disse ‘injustiçado’ e que a investigação ‘tinha como único objetivo lhe atingir’.

Nesta quarta, o juiz federal substituto Roney Raimundo Leão Otilio, da 2ª Vara da Justiça Federal de Alagoas, remeteu ao STF os autos da Hefesto. O magistrado destacou que a Polícia Federal encontrou documentos com ex-assessor do presidente da Câmara, Luciano Cavalcante, e o motorista Wanderson apontando ‘indícios’ de envolvimento de Lira com os desvios de R$ 8,1 milhões sob suspeita.

A Operação investiga suposto direcionamento e superfaturamento de contratos para a compra de equipamentos de robótica para escolas públicas, custeados com recursos do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE), entre 2019 e 2022.

No centro das suspeitas está a empresa Megalic LTDA. Segundo a PF, a companhia atuou apenas como intermediária na compra dos kits de robótica pelos municípios. Entre os sócios da empresa está Edmundo Catunda, pai do vereador de Maceió João Catunda, aliado de Lira.

A fase ostensiva da investigação começou em 1º de junho, na mira de uma série de aliados de Lira, em especial Luciano Cavalcante, ex-assessor do presidente da Câmara dos Deputados. Durante a ofensiva, os agentes apreenderam mais de R$ 4,4 milhões. Foram vasculhados 27 endereços de investigados.

Durante as diligências, a PF encontrou três documentos com os nomes de Lira e do ex-assessor: ‘um recibo de lavagens de veículo; um termo de autorização de entrega de veículo; um formulário de autorização de viagem outorgado por Arthur César Pereira de Lira em favor de Luciano Ferreira Cavalcante, a respeito de adolescente filho do primeiro’.

Além disso, a PF apreendeu, em posse de Wanderson, ‘manuscritos diversos descrevendo possível controle de despesas pessoais’, inclusive com ‘possíveis despesas de Lira, de seus familiares e de pessoas de sua relação’.

Para a defesa de Lira, a decisão do STF reconhece a existência de manobras na investigação com o objetivo de evitar o envio do caso à Suprema Corte, como exige a Constituição.