Mensagens obtidas pela Polícia Federal (PF) sugerem que o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques ordenou um “policiamento direcionado” contra eleitores do então candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições de 2022. O policial, preso nesta quarta-feira, em Florianópolis, por suspeita de uso da máquina pública para interferir no pleito eleitoral, desembarcou em Brasília no fim da tarde. Ele vai ser ouvido na manhã desta quinta e, em seguida, transferido para o Complexo Penitenciário da Papuda, na capital federal.
Em 29 de outubro, mensagens trocadas entre o policial rodoviário federal Adiel Pereira Alcântara, então coordenador de Análise de Inteligência da PRF, e Paulo César Botti Alves Júnior, subordinado a ele, apontaram que o próprio Alcântara criticou a conduta de Vasques. Ele fala que o ex-diretor-geral havia falado “muita m…” nas reuniões de gestão, notadamente determinando o “policiamento direcionado” das equipes da corporação nas blitze realizadas no segundo turno das eleições.
Conversas de WhatsApp de 12 de outubro no celular de Alcântara com o policial rodoviário federal Luís Carlos Reischak Júnior, então diretor de Inteligência da PRF, indicaram a orientação de uma ação ostensiva para o dia 30 do mesmo mês. Chama a atenção, conforme a PF, um trecho que menciona abordagens de ônibus levando “passageiros de São Paulo para o Nordeste”.
“Perfeito, chefe. Acho que é bom e assim, acho que a gente tem que levar em consideração também essa decisão recente do [ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto] Barroso que liberou o transporte gratuito de eleitores no dia 30. Porque vai ser difícil caracterizar o transporte clandestino de eleitor, né”, respondeu Alcântara.
À Record TV, a defesa de Silvinei disse, em referência ao mapeamento dos eleitores de Lula, que ele não pode ser responsabilizado por atos que tenham sido cometidos por outras pessoas. A defesa do ex-diretor da PRF disse ainda que “as operações no segundo turno foram coordenadas pelo Ministério da Justiça”.
A decisão de Barroso mencionada liberou municípios de todo o país de fornecer transporte gratuito no dia 30, quando ocorreu o segundo turno das eleições.
Segundo a PF, cerca de 30 minutos depois, Reischak disse que pretendia acompanhar Vasques em uma reunião com o então ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres. A corporação confirmou que, no mesmo dia, houve uma reunião do Conselho Superior da PRF com a participação de diretores, superintendentes e coordenadores-gerais, na qual o uso de celulares era proibido.
Além disso, a corporação citou um ofício despachado por Vasques no qual consta que “houve inicialmente a emissão de um único plano de trabalho, que englobaria as operações do 1º e 2º turno, caso houvesse”. Depois, o próprio diretor-geral informou que houve uma nova versão do documento, com a previsão de fiscalização de transporte de passageiros, que não havia sido incluída na primeira. “Havendo, portanto, diferença de procedimentos entre o primeiro e segundo turno das eleições”, reforça a PF.
Em 30 de outubro de 2022, policiais rodoviários federais realizaram blitze em diversas rodovias do Nordeste. Naquele dia, a corporação alegou a tentativa de evitar possíveis crimes eleitorais no dia do pleito.
Os bloqueios foram feitos mesmo depois de o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, ter decidido, na véspera do segundo turno, a proibição de qualquer tipo de operação relacionada ao transporte público, gratuito ou não, de eleitores.
Silvinei Vasques acabou exonerado do cargo de diretor-geral da PRF em dezembro e já era réu por improbidade administrativa devido à operação.
Aposentado desde o ano passado, Vasques, de 48 anos, nasceu em Ivaiporã, no Paraná, e integra os quadros da PRF desde 1995. Ele exerceu diversos cargos de chefia, como o de superintendente da corporação em Santa Catarina e no Rio de Janeiro.