Caraá sepulta três vítimas do ciclone e registra a quarta morte

Cidade do litoral Norte tinha 3 mil pessoas fora de casa, ainda nesta segunda-feira

Foto: Maria Eduarda Fortes/CP

Com 3 mil dos 8 mil habitantes fora de casa, a cidade de Caraá contabiliza quatro mortes em razão da passagem do ciclone extratropical que atingiu a costa gaúcha na semana passada. De acordo com o Correio do Povo, não resistiram à tragédia o casal Altamiro Carlos Lopes, de 75 anos, e Nadir da Silva Lopes, de 73, e a neta deles, Leandra da Silva Lopes, de 14 – todos atingidos na mesma residência e cujos corpos foram encontrados na sexta-feira -, além de Airton Pinto Pereira, o Ito, de 73, que teve o corpo localizado na tarde desta segunda-feira. Já José Beretta, o Zequinha, de 57, segue desaparecido. Portador de doença pulmonar e debilitado, ele fazia uso de oxigênio no dia da tragédia.

“Eu falo e choro. Vemos aqui chegando muitas coisas, alimentos, roupas. Não esperávamos uma tragédia dessa proporção, mas estamos comovidos com a união do povo”, conta, sem esconder as lágrimas o capataz do CTG Sentinela dos Sinos, Edilson Muniz dos Santos, o Dico.

O trabalho para Dico serve de alento, após ele ter sido praticamente testemunha ocular das mortes de Altamiro, Nadir e Leandra, que viviam entre as localidades de Passo do Marco e Prainha João Fernandes, a três quilômetros do Centro. “Foi tudo muito rápido. Não deu chance para eles saírem da casa e irem para o vizinho, que fica a dez metros de distância e é uma casa de alvenaria”, comenta.

Altamiro, segundo o vizinho próximo, tirou o o veículo do casal, um Prisma vermelho, da garagem, e o estacionou na casa ao lado. Em seguida, voltou para a residência a fim de buscar alguns itens. “Quando eles reuniram algumas coisas para voltar de novo, não deu tempo de sair, a água já tinha tomado conta. Então, eles se trancaram em casa e fecharam todas as portas, mas ela foi subindo. Não teve como sair”, detalha. “Eu estava em casa, que é mais alta, assistindo tudo. Enxergo a casa deles dali. Via as luzes das velas pelas janelas”, recorda.

Em seguida, Dico contou ter ouvido estalos, e viu a casa sendo arrastada para baixo. Eram 23h30min da última quinta-feira. “Depois, ouvi alguns gritos, mas era muito forte o barulho do rio, não tinha como fazer nada”, relatou. Quando a chuva reduziu, cerca de três horas depois, Dico conta ter ido até a casa de Altamiro e ouvido gritos, mas o excesso de água ainda impedia o resgate. Foi então que o irmão menor de Leandra se dirigiu à churrasqueira que fica no lado externo da casa, o que segundo Dico salvou a vida do menino. “Ele ficou quietinho ali, e os escombros caindo por cima dele”, acrescenta o capataz.

A mãe das crianças e filha do casal chegou depois, e ficou em estado de choque. Os corpos, junto com o que restou da casa, foram encontrados no meio de um campo, próximo dali. O velório e sepultamento da família ocorreram nesta segunda.

Já Ito era proprietário de um camping e morreu arrastado pela correnteza. O idoso teve o corpo encontrado em uma área conhecida como Lagoa do Miguelão, no rio dos Sinos, três quilômetros abaixo da casa onde vivia. Ele era de Alvorada.

José Caleffi, o Zequinha, dono de uma serralheria em Linha Padre Vieira, a dez quilômetros do Centro, segue desaparecido. O agricultor Agostinho Pisoni, que vive no Centro de Caraá, conta que Zequinha, viúvo, é primo-irmão do pai dele. “Os filhos conseguiram se salvar”, completa.

*Com informações do repórter Felipe Faleiro/Correio do Povo

*Atualizada para correções às 17h de 20/06/2023