O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou, nesta quinta-feira, que as “joias [doadas pela Arábia Saudita ao Brasil] nunca passaram pelas mãos dele” nem pelas mãos da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. O ex-chefe de Estado deu a declaração a jornalistas ao deixar o Senado, onde esteve para visitar o gabinete do filho Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Ao ser questionado sobre a possibilidade de Michelle ser convocada a dar esclarecimentos sobre as joias, Bolsonaro defendeu a esposa dizendo que ela já se explicou sobre ações específicas durante o governo dele. “Sobre os móveis, ela explica. Tem responsável pela seção de patrimônio, não tem como sumir com móveis do Alvorada, meu Deus do céu. Ela explicou a questão dos R$ 2 mil e pouco em moedas [retiradas do espelho d’água do Palácio da Alvorada], que foram doadas. Explicou a questão das joias, que ela nunca viu as joias. Num primeiro momento, disseram que valia R$ 16 milhões, estava lá retida na receita, agora passou para R$ 5 milhões. A Receita [Federal] acabou de informar que não tem que se cobrar imposto por joias que nunca passaram pelas minhas mãos e pelas mãos dela”, declarou.
O ex-presidente afirmou ainda que tudo que o Tribunal de Contas da União (TCU) pediu, a defesa dele executou, mas que alguns itens, como facas, permanecem com ele. “Tudo que determinou eu cumpri. Entreguei fuzil, pistola, mas deve ter uns mil bonés, 50 facas, quadros que fizeram com a minha cara, uma moto de madeira, que pensei que poderia ficar comigo. Dois presentes doei para a Biblioteca Nacional, então só parte de 9 mil itens que está à disposição. Não quero abrir uma instituição, quero doar esse material todo e ficar livre desse problema”, disse.
Presente saudita
Os conjuntos de joias da Arábia Saudita que integrantes do governo de Jair Bolsonaro trouxeram ao Brasil foram dadas pelo governo saudita em 2021. O ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque as recebeu durante viagem oficial ao país do Oriente Médio para a qual Bolsonaro havia sido convidado, mas enviou o ex-ministro no lugar. No retorno ao Brasil, as joias foram identificadas dentro da bagagem de um assessor de Albuquerque.
Entre os itens de luxo, a escultura de um cavalo de aproximadamente 30 centímetros, colar, anel, relógio e um par de brincos com diamantes. Na época da apreensão das joias, Albuquerque chegou a dizer aos servidores da Receita Federal que eram um presente para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Mais joias entregues
Após a divulgação do caso, também veio à tona a informação de que o ex-presidente ficou com um outro kit de joias dadas pela Arábia Saudita. Avaliado em cerca de R$ 500 mil, o kit, composto de relógio, caneta, anel, abotoaduras e masbaha (um tipo de rosário), havia sido oferecido a Bolsonaro em 2021. A defesa de Bolsonaro entregou os objetos, em março, à Caixa Econômica Federal.
O valor estimado do relógio Rolex é de R$ 364 mil. O ex-presidente voltou com o conjunto de joias para o Brasil e deu ordens para levar os itens para o acervo privado dele. Um formulário de encaminhamento de presentes para o presidente chegou a ser preenchido, com a especificação de cada item.
A guarda dessas joias permaneceu no acervo privado de Bolsonaro por mais de um ano e meio, até que, já no ano passado, o então presidente deu novas ordens, em 6 de junho de 2022, para ficar com o kit. Dois dias depois, conforme os registros oficiais, as joias já passaram a ficar “sob a guarda do presidente da República”.