O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deve depor à Polícia Federal, na próxima terça-feira, para dizer que não se vacinou contra a Covid-19 e que não participou do suposto esquema de fraude nos dados de vacinação. Aliados do ex-presidente confirmaram a informação ao portal R7. Bolsonaro era esperado para depor em 3 de maio, dia em que a corporação cumpriu mandado de busca e apreensão na casa dele no Distrito Federal, mas a defesa alegou que, antes, queria acesso aos autos do inquérito.
A operação deflagrada pela Polícia Federal investiga a atuação de uma associação criminosa que inseria dados falsos de vacinação nos sistemas do Ministério da Saúde. Aliados de Bolsonaro, como Mauro Cid, Sérgio Cordeiro e Max Guilherme, foram presos no dia 3.
“Não há dúvida que eu chamo de ‘operação para te esculachar’. Podiam perguntar sobre vacina, cartão, eu responderia sem problema nenhum. Agora uma pressão enorme, 24 horas por dia, o dia todo, desde antes de assumi a Presidência até agora. Não sei quando isso vai acabar”, disse Bolsonaro após a operação policial.
O ex-presidente chegou a dizer que sentiu “constrangimento” por parte dos policiais federais que trabalharam na operação. “Abri a porta, convidei para entrar e fui tratado muito bem. Em nenhum momento houve exagero, voz mais alta, falta de educação, muito pelo contrário. Acredito até que eu senti constrangimento em alguns policiais federais. Foram corteses comigo”, relatou.
Estados Unidos
O R7 mostrou que um relatório produzido pela Polícia Federal mostra que a equipe presidencial emitiu o último certificado de vacinação do ex-presidente cerca de duas horas antes de ele deixar o Brasil rumo aos Estados Unidos, no fim do ano passado.
“No dia 30 de dezembro de 2022, às 12h02, o usuário associado ao ex-presidente da República, utilizando o endereço de IP vinculado ao terminal telefônico cadastrado em nome de Mauro Cesar Barbosa Cid, acessou o aplicativo ConecteSUS e emitiu um novo certificado de vacinação contra a Covid-19”, cita um trecho do relatório.
O documento, segundo a corporação, continha apenas registro da vacina da Janssen — as da Pfizer já haviam sido excluídas anteriormente. “Cerca de duas horas depois da emissão do último certificado, Mauro Cesar Cid e o ex-presidente da República Jair Bolsonaro viajaram de Brasília para a cidade de Orlando, nos Estados Unidos”, completa. O voo decolou por volta de 14h.
Investigação da PF
A investigação da Polícia Federal sobre esquema de falsificação de registros de vacinação contra a Covid-19 aponta que Bolsonaro não passou pelas cidades indicadas nos dias em que, pelos registros, recebeu os imunizantes. Quatro certificados de vacinação em nome do ex-presidente foram emitidos, os dois primeiros apontando que ele se imunizou contra a Covid-19 três vezes: com a vacina da Janssen, de aplicação única, e com duas doses da Pfizer. Os dois últimos certificados exibiam apenas a dose da Janssen.
Em 19 de julho de 2021, quando supostamente tomou a dose da Janssen, Bolsonaro cumpria agenda em Brasília, não em São Paulo, como indica o certificado de vacinação. A investigação aponta que Bolsonaro também não viajou a Duque de Caxias (RJ) em 13 de agosto de 2022, quando, segundo os registros, recebeu a vacina da Pfizer.