Alexandra Dougokenski é condenada a 30 anos e dois meses de reclusão pela morte do filho

Crime chocou o Estado em maio de 2020

Alexandra Salete Dougokenski notificou desaparecimento antes de, na época, confessar crime | Foto: Tribunal de Justiça / Youtube / Reprodução / CP

Alexandra Salete Dougokenski foi considerada culpada pela morte do filho, Rafael Mateus Winques. A decisão foi divulgada no fim da noite desta quarta-feira, após o terceiro dia de julgamento no Salão do Júri da Comarca de Planalto, no Norte do Rio Grande do Sul. A defesa informou que irá recorrer.

A juíza Marilene Parizotto Campagna leu a sentença já perto da meia-noite, confirmando a condenação a 30 anos e 2 meses de prisão, com regime inicial fechado. Dessa pena, 28 anos são por homicídio com 4 qualificadoras. Alexandra foi condenada também por ocultação de cadáver, falsidade ideológica e fraude processual.

A criança foi morta em maio de 2020. Rafael Mateus Winques tinha 11 anos. O crime chocou o estado logo nos primeiros meses da pandemia de Covid-19. Rafael foi considerado desaparecido e, durante as buscas, Alexandra chegou a dar uma entrevista pedindo ajuda para encontrar o filho. Dias depois, confessou o crime, indicando o local onde teria escondido o corpo.

Durante a fase da sustentação da acusação no júri do caso Rafael, os promotores de Justiça afastaram a versão indicada por ela de que o pai matou o filho, apontando que o homem não estava na cidade no período. Também apontaram as cinco versões que ela apresentou para o assassinato ao longo das investigações. O promotor de Justiça Diogo Gomes Taborda indicou que houve “premeditação” no caso, afirmando que Alexandra aproveitou que o namorado, Delair, não dormiria na casa naquela noite para cometer o crime.

Ele também relatou como o corpo do menino foi colocado na caixa. E falou sobre a versão dela de que o pai matou Rafael, apontando ser esta mais uma mentira “sádica” da ré. “Não tem cabimento. Rodrigo passou todo o tempo em Bento Gonçalves.” O promotor pediu a condenação de Alexandra por todos os crimes de que é acusada.

Após, o promotor de Justiça Marcelo Tubino Vieira destacou que a dose da medicação dada a Rafael causava sono, mas não o suficiente para matar. “Ela sufocou o menino em vida. Alexandra teve nas suas mãos o destino e o futuro de uma criança que deveria cuidar”, disse, pedindo aos jurados a condenação da ré pelos crimes. “A gente está aqui pelo Rafael. Estamos aqui para cumprir a lei.”

Houve a sustentação da defesa da ré, feita pelo advogado Jean Severo. Ele afirmou que Alexandra foi criticada por ser mãe rígida e organizada, criticada por manter a casa limpa e “que puxava pelos filhos”, destacando não haver motivação para ela cometer o crime. “Se encontraram motivação, condenem, mas não há”, afirmou. De acordo com ele, Alexandra foi constrangida pela polícia a assumir em interrogatório a responsabilidade pelo crime e que, conforme ela lhe relatou, quiseram forçá-la a dizer que quis matar o menino.

Ele pediu a absolvição de Alexandra, destacando não haver um histórico de agressões por parte dela contra o menino. Afirmou que absolvê-la seria fazer justiça com ela e com o garoto. O advogado pediu, aos jurados, imparcialidade: “Na dúvida, eu absolvo”. Ele ainda afirmou que a absolvição é uma oportunidade de Alexandra “reconstruir a vida do filho”, apontando para Anderson Dougokenski, irmão mais velho de Rafael, hoje com 19 anos.

Jean Severo também falou sobre Rodrigo, indicando conteúdos do celular dele e apontando crimes que o pai do menino teria cometido. “E aí, vou deixar ele solto, e ela presa?”, questionou. O advogado também mencionou a quantidade de celulares que o pai teria e afirmou que não houve a devida perícia nos aparelhos. “Uma absolvição dela vai forçar a Polícia a investigar o pai”, afirmou o defensor, destacando que Rodrigo estava em Planalto na época do crime.

Após pausa de 15 minutos, no início da noite, houve a réplica por parte da acusação e a tréplica realizada pela defesa.

Ao contrário do que disse em juízo, a ré, que é acusada de quatro crimes, homicídio qualificado, ocultação de cadáver, falsidade ideológica e fraude processual, afirmou que o ex-marido Rodrigo Winques esteve em sua residência na madrugada do crime. Alexandra foi a décima primeira pessoa a prestar depoimento sobre o caso e falou no terceiro dia do julgamento. Ela acusou o ex-marido da morte do filho e o chamou de assassino. “Naquela madrugada, sem que ninguém imaginasse, nossa vida ia ser destruída”, destacou.

Segundo a ré, os delegados teriam insistido para que ele desconstituísse os advogados de defesa. “Disseram que se eu não falasse o que estavam dizendo, seria autorizado por juiz para eu ser colocada num manicômio onde eu nunca mais ia ver meu filho e minha família, ia ficar abandonada para sempre até morrer”, afirmou. Ao falar do relacionamento de 11 anos com Rodrigo, Alexandra disse que viveu um casamento abusivo e relatou ocasiões em que foi agredida com socos pelo ex-companheiro.