Pacote anunciado por Haddad busca melhorar contas públicas em até R$ 242,7 bi

Medidas envolvem reversão de desonerações e mudanças no Carf

Foto: Valter Campanato/ABr

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, detalhou, nesta quinta-feira, as medidas ficais para fazer o governo melhorar as contas públicas em até R$ 242,7 bilhões e, no cenário mais otimista, registrar superávit primário em 2023. As ações envolvem reversão de desonerações, mudanças no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) e uma nova renegociação especial de dívidas chamada Programa Litígio Zero.

De acordo com o Ministério da Economia, as mudanças poderão fazer o Governo Central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) encerrar o ano com superávit primário de R$ 11,13 bilhões, contra a previsão de déficit de R$ 231,55 bilhões estabelecida no Orçamento Geral da União.

De acordo com o ministro, a previsão, no cenário mais realista, é que o déficit primário feche o ano em pouco menos de 1% do Produto Interno Bruto (PIB), entre R$ 90 bilhões e R$ 100 bilhões. O pacote envolve medidas e reestimativas de receitas que elevarão a arrecadação em até R$ 196,68 bilhões e reduzirão as despesas em até R$ 50 bilhões.

Do lado das receitas, o governo prevê que entrarão R$ 36,4 bilhões a mais no caixa em relação ao originalmente previsto no Orçamento de 2023. Além disso, estima mais R$ 73 bilhões em receitas extraordinárias com mudanças que pretendem acelerar processos no Carf e desempatar votos em favor do governo (R$ 35 bilhões), incentivo para denúncias espontâneas de sonegação (R$ 15 bilhões) e a utilização de recursos parados em um antigo fundo do PIS/Pasep (R$ 23 bilhões), que havia sido autorizada pela Emenda Constitucional da Transição.

O governo também vai promover uma série de medidas para aumentar a arrecadação de forma permanente, que deve render R$ 83,28 bilhões somente neste ano. Entre as medidas, o fim das desonerações no Programa de Integração Social (PIS) e na Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), além da mudança no aproveitamento dos créditos do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que era incorporado no PIS/Cofins.

Em relação ao fim das desonerações, o governo prevê que entrarão nos cofres públicos R$ 28,88 bilhões do fim da alíquota zero do PIS/Cofins sobre a gasolina e o etanol a partir de março. Entrarão ainda R$ 4,4 bilhões da reversão da desoneração de PIS/Cofins sobre receitas financeiras de grandes empresas, decidida pelo ex-vice-presidente da República Hamilton Mourão no fim do ano passado. Nesse caso, os tributos voltarão às alíquotas antigas em abril.

Sobre o ICMS, em 2017, o Supremo Tribunal Federal (STF) havia excluído o imposto da base de cálculo do PIS/Cofins, mas definiu o alcance da medida só no fim de 2021. No entanto, perdurou uma polêmica sobre se o cálculo dos créditos tributários de PIS/Cofins devia ou incluir ou retirar o ICMS.

Os créditos tributários são tributos pagos a mais ao longo da cadeia produtiva que podem ser devolvidos às empresas ou usados para abater o pagamento de outros tributos. O governo definiu que os créditos de PIS/Cofins não serão calculados sobre o ICMS, apenas sobre a base de cálculo determinada pelo STF. Isso, conforme a Fazenda, vai resultar em mais arrecadação para a União.

Do lado das despesas, a medida prevê a redução de gastos em R$ 50 bilhões. Desse total, R$ 25 bilhões virão da revisão permanente de contratos e programas, a ser executada pelo Ministério do Planejamento, e R$ 25 bilhões virão de empenhos (autorização de execução) abaixo do autorizado no Orçamento de 2023.

Em relação ao Carf, órgão que julga recursos administrativos de contribuintes que devem à Receita Federal, a mudança mais importante vai ocorrer no sistema de votação. O governo vai retomar o voto de desempate da Fazenda, já recomendado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), no julgamento de conflitos tributários. Com a medida, as chances de a Receita ganhar os processos crescem, melhorando o caixa do governo.

O governo também vai introduzir o Programa Litígio Zero, nos moldes dos tradicionais Refis, que prevê a renegociação em condições especiais de dívidas com a União. As pessoas físicas, micro e pequenas empresas com dívidas abaixo de 60 salários mínimos poderão obter descontos de 40% a 50% sobre o valor total do débito, com prazo de até 12 meses para pagar.

Para empresas que devem mais de 60 salários mínimos, vai haver desconto de 100% sobre multas e os juros e a possibilidade de usar prejuízos de anos anteriores para abater de 52% a 70% do débito. As medidas vão incidir apenas sobre dívidas consideradas irrecuperáveis e de difícil recuperação.

O pacote também prevê o fim dos recursos de ofício dentro do Carf para valores abaixo de R$ 15 milhões. Nesses casos, quando o contribuinte vencer em primeira instância, a Receita Federal deixa de recorrer, encerrando o litígio. De acordo com o Ministério da Fazenda, a medida vai extinguir quase 1 mil processos no Carf, no valor total de R$ 6 bilhões, ajudando a desafogar o órgão para o julgamento de dívidas maiores.