Toffoli dá cinco dias para governo falar sobre possível convocação de PMs pelas Forças Armadas

Partidos pedem esclarecimentos sobre possibilidade de convocação, pontuando que decretos da ditadura são incompatíveis com a Constituição

Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli deu cinco dias para que o governo federal e a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestem sobre decretos que permitem a convocação das policiais militares pelas Forças Armadas. A ação, ajuizada por PSB, PV, Solidariedade, PCdoB, PSol e Rede Sustentabilidade, pede a suspensão de dois decretos, de 1969 e de 1983.

As resoluções em questão são da época da ditadura militar. Os partidos entendem que os textos são incompatíveis com a Constituição Federal de 1988.

As siglas dizem que o objetivo é afastar qualquer interpretação legal que possa servir para tentativa de embasar “a possibilidade de convocação direta das forças policiais dos estados da federação para que atuem sob comando e subordinação ao governo federal ou às Forças Armadas para fins de pretensa manutenção ou contenção da ordem pública”.

Os partidos advertem que o decreto 667, de 1969, “estabelece como premissa central da estrutura organizacional das polícias militares a sua subordinação e controle pelo Ministério do Exército”, com a possibilidade de convocação pelo governo federal das forças policiais dos estados “para atender às hipóteses de guerra externa”.

As siglas dizem ainda que o decreto 88.540, de 1983, que regulamenta as hipóteses de convocação, manifesta incompatibilidade com a Constituição de 1988 ao conferir amplos poderes do governo federal sobre as PMs, quando a própria Carta Magna prevê a subordinação das policiais militares aos governadores.

“O acirramento da disputa político-eleitoral no país é fato notório e não são escassas as ameaças e bravatas proferidas pelo presidente da República em desrespeito à disciplina institucional prevista na Constituição Federal. Em diversas ocasiões, a autoridade máxima da República tratou as Forças Armadas do Estado brasileiro como instrumento a serviço de seu grupo político, chegando a fazer referência ao ‘meu Exército’ contra atos administrativos de governos estaduais”, defendem os partidos que entraram com a ação.

“Meu Exército”

O presidente Jair Bolsonaro (PL) já se referiu ao Exército como “meu Exército” em mais de uma ocasião, como em maio do ano passado, em meio a decisões de gestores estaduais e municipais pelo fechamento de comércios em meio à pandemia da Covid-19. “O meu Exército só vai para a rua para manter a liberdade de vocês. Jamais para mantê-los dentro de casa”, afirmou.

A possibilidade de Bolsonaro ser respaldado pelas policiais militares é assunto constante quando se aborda o clima de acirramento político em uma eventual derrota do presidente nas eleições deste ano.

A reportagem apurou que a questão é preocupação inclusive de outras nações, como no governo britânico. Interlocutores do Reino Unido já informaram entender que Bolsonaro não conta com o respaldo das Forças Armadas no caso de uma tentativa de ruptura institucional, mas temem que ele possua apoio das PMs.

No ano passado, às vésperas das manifestações de 7 de Setembro, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) chegou a recomendar à Secretaria de Segurança Pública do DF e ao Comando-Geral da Polícia Militar a proibição para PMs da ativa, fora de serviço, participarem da manifestações.

WP Twitter Auto Publish Powered By : XYZScripts.com
Sair da versão mobile