“Não vou tomar vacina para ganhar voto”, diz Bolsonaro a ministro da Casa Civil

Relato é de Ciro Nogueira, da Casa Civil, para quem o presidente subiria 8% nas pesquisas se se vacinasse, com base em estimativa de estatístico consultado

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

Ao explicar a jornalistas a postura do presidente Bolsonaro perante determinadas polêmicas, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, relata um episódio recente. Na condição de auxiliar mais importante do presidente no Planalto e aliado também no esforço pela reeleição, o ministro teria colocado ao chefe uma hipótese: “presidente, se o senhor se vacinar [contra a Covid-19], o senhor cresce 8% nas pesquisas, segundo um grande estatístico conhecido”. Bolsonaro teria respondido: “Ciro, não vou fazer isso para ganhar voto”. O ministro conclui: “ele é ele, não dá para querer enquadrá-lo”.

O relato consta de uma entrevista concedida por Nogueira a colunistas do jornal Correio Braziliense, em que o articulador do presidente prevê que Bolsonaro “chega ao primeiro turno na frente”. “O Lula teria tomado 25 vacinas se eu chegasse com essa conversa para ele”, declara o ministro, político com base eleitoral no Nordeste e que já foi aliado do petista. “Então é essa a diferença. Você não vai montar o Bolsonaro para ganhar a eleição”, completou.

A declaração de Ciro Nogueira é dada num contexto em que o ministro defendia ser impossível contornar o caráter, segundo ele, “espontâneo” das manifestações de Bolsonaro e que é preciso fazer com que “o lado mais sensível” do presidente chegue à população. No correr da entrevista, Nogueira não esclarece qual foi o “estatístico conhecido” que calculou a suposta alta de Bolsonaro nas pesquisas caso aceitasse tomar a vacina.

“Foi uma decisão dele. E se ele se vacinasse e faltasse uma vacina? Não faltou uma vacina no nosso país”, defende Ciro. O desempenho do governo brasileiro na gestão da pandemia do coronavírus será um dos temas sensíveis da campanha eleitoral, que começa oficialmente dentro de uma semana. A oposição prepara um arsenal de vídeos de Bolsonaro registrados durante os momentos críticos da emergência sanitária mundial. A equipe do presidente se organiza para reagir.

“Algumas palavras foram mal colocadas”, antecipa-se Nogueira. “Mas o fundamental é que tivemos um exemplo de condução da pandemia para o mundo”, sustenta.

O Brasil acumula hoje, de acordo com dados do Conass, Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Saúde, 680.166 óbitos em decorrência da Covid-19 e a média móvel de óbitos dos últimos 7 dias é de 207 óbitos a cada 24 horas. O país chegou a ocupar a posição de segundo no ranking mundial em casos e em óbitos, perdendo apenas para os Estados Unidos. Após sucessivas trocas de ministros na pasta da Saúde e da adoção da vacinação em massa, chegou à sétima posição mundial no número de óbitos pela doença e controlou a disseminação do vírus.