Segundo dia do julgamento do Caso Ronei Júnior ouve testemunhas de acusação

Primeiro depoimento foi de vigilante que trabalhava em supermercado na noite do crime

Foto: Juliano Verardi / TJRS/ CP

O segundo dia de julgamento, com três dos nove réus, que apura as responsabilidades da morte de Ronei Faleiro Júnior, 17 anos, em 1º de agosto de 2015, foi retomado às 9h15 desta quinta-feira no Salão do Júri do Foro da Comarca de Charqueadas. A sessão é presidida pelo juiz de Direito Jonathan Cassou dos Santos. O primeiro depoimento foi de um vigilante que trabalhava, na noite do crime, em um supermercado do outro lado da rua de onde ocorreu o fato.

“Estava na lateral do mercado e ouvi barulho de vidro quebrando e fui para a frente do estabelecimento e vi um monte de gente em cima do carro e seu Ronei. Dava para ver ele no meio da galera tentando afastar todos das agressões. No carro chegou a voar garrafa. Tudo naquele formigueiro. Acho que tinha umas 30 pessoas. Dividiu o monte e um pouco foi para o lado do motorista. Abriram a porta e ele afastou. Daí, abriram a outra porta e ele foi e se afastou também. Eles jogavam alguma coisa para dentro do carro. Na terceira vez ele conseguiu fugir. Ele levou soco, chute. Foi tudo muito rápido. Como ele não caiu, eu não fui ajudar. Era muita gente em cima de um cara sozinho. Quando descobri que tinha tido uma morte achei que era ele. Depois que o carro arrancou, vi dois ou três que jogaram garrafas no carro”, relatou.

Durante o depoimento, o vigilante apontou para os réus e disse que eles estavam circulando nas redondezas do clube na noite do fato e passaram em frente ao supermercado. Ele apontou para dois dos três acusados ao falar que viu os agressores comemorarem quando o carro arrancou. “Uma covardia sem tamanho. Fiquei mal por um bom tempo por não ter ido ajudar”, afirmou a testemunha.

A última testemunha de acusação foi um colega da vítima e também um dos organizadores da festa da turma. “Eu fiquei até o final e lembro que a gente ia contar o dinheiro arrecadado. Ronei estava esperando o pai dele. Quando ele chegou, o Jr. pediu para dar carona para a amiga e o namorado. O pai confirmou. Quando eles abriram a porta para ir embora, eu fui atrás e vi quando eles desceram a escada e começaram os gritos, os empurrões e as garrafas voando e quebrando. Tudo foi muito rápido. Eu voltei para o clube e não vi bem o que houve na rua. Nem lembro como fui embora, se de carona ou táxi. Só sei que saí pela porta lateral. Achei que era uma briga normal. Quando cheguei em casa, vi no celular, no grupo da turma, que tinha um adolescente no hospital. Só soube da morte no outro dia. Nunca tinha passado por isso na vida, uma morte de alguém próximo. Achei que, como o pai dele estava junto, não iam fazer nada, mas não respeitaram o pai do Ronei. Foi um bolo chegando nos quatro, mas só ouvi, não lembro de ter visto porque voltei rápido para dentro do clube. A formatura acabou não acontecendo porque a turma ficou dilacerada”, recordou.

“Pareciam animais enfurecidos”, foi a frase que o colega de Ronei Jr. teria usado em depoimento na delegacia. “Foi um ataque, uma multidão de gente. Atacaram sem dó nem piedade. Não houve nem tentativa de intimidar. Foi ataque direto. Acho que tinha uns 20 agressores”, afirmou o depoente.

Na tarde desta quinta-feira, o júri prossegue com a oitiva de duas testemunhas de defesa e os depoimentos dos réus. No primeiro dia do julgamento, nessa quarta-feira, o delegado Rodrigo Reis, na época dos fatos titular da DP de Charqueadas, foi ouvido na condição de testemunha. Para ele, os réus já estavam do lado de fora preparados para atacar os jovens. A motivação, observou, seria a rixa entre Charqueadas e São Jerônimo.

“As vítimas receberam garrafadas, chutes, golpes de todos os tipos. Eram muitos agressores e ocorreu muito rápido, eles circularam o veículo. Testemunhas disseram que pareciam animais enfurecidos. Agrediam de forma muito contundente. Se não fosse a ação previamente organizada daquele grupo de adultos e adolescentes, o crime não teria ocorrido”, contou.

O delegado Rodrigo Reis recordou ainda que já era de conhecimento dos moradores da cidade que o grupo “Bonde da Aba Reta”, no qual faziam parte os réus, já vinha há alguns anos praticando infrações de menor potencial ofensivo na cidade. No entanto, salientou ele, não existiam registros formais desses crimes, como ameaças, injúrias, lesões leves e brigas em festas. “Todo morador de Charqueadas sabia que mais cedo ou mais tarde eles iam matar alguém. O fato de as vítimas conseguirem empreender fuga evitou a morte de mais pessoas”, avaliou.

O julgamento está sendo transmitido ao vivo pelo canal do TJRS no Youtube ou através do Twitter Ao Vivo do TJRS.

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