O delegado da Polícia Federal Bruno Callandrini, que, à frente da Operação Acesso Pago, prendeu o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, reclamou do tratamento dado ao ex-titular da pasta. Segundo Callandrini, esse elemento atrapalhou as investigações.
Em um texto enviado a colegas que participaram da operação, Callandrini critica o fato de Ribeiro não ter sido transferido para a superintendência da Polícia Federal em Brasília, como determinado inicialmente pela Justiça, e pondera que o ex-ministro recebeu “honrarias não existentes na lei”.
“A investigação envolvendo corrupção no MEC foi prejudicada no dia de ontem em razão do tratamento diferenciado concedido pela PF ao investigado Milton Ribeiro. O deslocamento de Milton para a carceragem da PF em São Paulo é demonstração de interferência na condução da investigação, por isso, afirmo não ter autonomia investigativa e administrativa para conduzir o inquérito policial deste caso com independência e segurança institucional”, destacou o delegado.
Callandrini disse ter procurado a Coordenação de Inquérito nos Tribunais Superiores (Cinq) da Polícia Federal para questionar a manutenção de Ribeiro em São Paulo. “Falei isso ao Chefe do Cinq ontem, após saber que, por decisão superior, não iria haver o deslocamento de Milton Ribeiro para Brasília, e manterei a postura de que a investigação foi obstaculizada ao se escolher pela não transferência de Milton a Brasília à revelia da decisão judicial”, frisou.
“O principal alvo [Milton Ribeiro], em São Paulo, foi tratado com honrarias não existentes na lei, apesar do empenho operacional da equipe de Santos que realizou a captura de Milton Ribeiro e estava orientada, por este subscritor, a escoltar o preso até o aeroporto em São Paulo para viagem a Brasília”, acrescentou Callandrini.
Polícia Federal investiga suposta interferência
Nesta quinta-feira, a Polícia Federal informou que abriu investigação para verificar suposta tentativa de interferência na Operação Acesso Pago. De acordo com a corporação, surgiram “boatos” de que existe tentativa de interferir nas diligências, mas a PF não divulgou quem pode estar por trás da suposta intromissão.
A prisão de Ribeiro acabou revogada, nesta quinta-feira, pelo desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). Outras pessoas envolvidas na operação também ganharam liberdade. Como argumento para as solturas, o magistrado citou a falta de acesso por parte dos advogados ao processo que motivou as prisões.
O ex-ministro é investigado por suspeita de irregularidades no MEC. Os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos foram acusados de articular a liberação de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para municípios em troca de propina. Prefeitos ouvidos no Senado, na Comissão da Educação, confirmaram os pedidos e disseram ter havido até mesmo solicitação de pagamento em ouro.
Um relatório da Polícia Federal sobre as investigações apontou a existência de uma organização criminosa dentro do MEC. O Ministério Público Federal avaliou, em parecer, que o ex-ministro dava respaldo ao esquema.