Termina o primeiro dia de julgamento do Caso Ronei Júnior, em Charqueadas

Júri vai ser retomado nesta quinta-feira, às 9h

Ronei Faleiro chorou ao lembrar das últimas palavras do filho. Foto: TJ/Divulgação

O primeiro júri popular do caso Ronei Júnior, com três dos nove acusados no banco dos réus, terminou na noite desta quarta-feira no Salão do Júri de Charqueadas, na região Carbonífera. O juiz Jonathan Cassou dos Santos presidiu a sessão. Três mulheres e quatro homens foram sorteados para integrar o Conselho de Sentença, ainda pela manhã.

O pai da vítima, Ronei Wilson Jurkfitz Faleiro, manifestou a expectativa de que os autores da morte do filho sejam punidos, embora considere que nada possa tornar “menos pesado um crime bárbaro”. Ronei Júnior morreu depois de ter sido espancado brutalmente em uma saída de festa, na frente do pai e de dois amigos, também agredidos, em agosto de 2015.

“A expectativa é que a justiça seja feita e que os jurados tenham uma apreciação correta sobre tudo”, declarou Ronei Faleiro, antes do início do julgamento. “Que ocorra a condenação e que o recado à sociedade seja dado. Por mais doloroso que esse processo seja para a família, temos de atravessá-lo para que a justiça seja feita.”

Pelo Ministério Público atuaram os promotores de Justiça Anahi Gracia de Barreto, João Cláudio Pizatto Sidou, Marcio Abreu Ferreira da Cunha e Eugênio Paes Amorim. Na defesa atuaram os advogados Diorge Diander da Cunha Rocha e Celomar Cruz Cardozo, além dos defensores públicos Cristiano Vieira Heerdt, Antonio Flavio de Oliveira e Tatiana Kosby Boeira.

Os três réus respondem pelos crimes de homicídio qualificado, três tentativas de homicídio qualificado, associação criminosa e corrupção de menores. O julgamento, que pode se estender até sexta-feira, teve 21 testemunhas arroladas, sendo 12 pela defesa e nove pela acusação. Os outros seis réus serão julgados nos dias 4 e 11 de julho, três em cada dia.

O pai da vítima prestou o primeiro depoimento. Muito emocionado, Ronei Faleiro relatou o que ocorreu no dia em que os acusados o atacaram, junto do filho e de um casal de amigos, no início da madrugada de 1º de agosto de 2015. “Era uma gangue linchando quatro pessoas”, sentenciou.

Sobre os agressores – cerca de 15, pelo que se recorda -, Ronei disse que muitos inclusive conviviam com o filho. Ainda de acordo com o pai da vítima, o crime teve como motivação o fato de Richard – amigo de Ronei Júnior -, que era morador de São Jerônimo, ter começado a namorar uma jovem de Charqueadas. Era com esse casal que o adolescente saía da festa quando as agressões começaram.

Ao fim do depoimento, Ronei Faleiro não conseguiu conter lágrimas ao lembrar as últimas palavras do filho, que tinha cortes pelo corpo e na cabeça. “Antes de perder a consciência, ele ainda perguntou se eu estava bem (…) Meu filho foi julgado, sentenciado e executado numa calçada”, enfatizou.

Quase sete anos depois, Ronei conta que nunca mais passou em frente ao local do crime. Ele e a família não vivem mais em Charqueadas.

Durante a tarde, prestaram depoimento os dois amigos de Ronei Júnior, também agredidos pelo bando. Richard Saraiva de Almeida e Franciele Wiencke pediram a suspensão da transmissão online em áudio e vídeo no período em que falaram.

Ainda que acredite que era o alvo principal das agressões, por estar em uma festa de Charqueadas sendo morador de outra cidade (São Jerônimo), Richard relatou ter levado apenas um soco na cabeça e conseguido entrar antes no veículo do pai de Ronei. “Se queriam me pegar, por que bateram tanto nele (Ronei Júnior)?”, questionou.

Richard era namorado de Franciele havia cerca de quatro meses. Terceira a depor, a jovem relatou ter “ficado” com um dos agressores, cerca de dois anos antes do crime. Ela também se emocionou ao recordar do ataque. “Era muita gente correndo na minha direção (…) Quando o carro arrancou ainda havia uma porta aberta”, detalhou.

Delegado Rodrigo Machado Reis depôs na condição de testemunha. Foto: TJ/Divulgação

Após um intervalo, o juiz retomou a sessão, no início da noite, tomando as declarações do delegado de Polícia de Charqueadas à época do crime. Rodrigo Reis respondeu perguntas sobre a investigação na condição de testemunha. A motivação, segundo reforçou o delegado, era a “rixa entre Charqueadas e São Jerônimo”.

“Testemunhas disseram que pareciam animais enfurecidos. Agrediam de forma muito contundente”, narrou o policial. Reis ainda frisou que era de conhecimento dos moradores da cidade que o “Bonde da Aba Reta” já vinha, há alguns anos, praticando infrações de menor potencial ofensivo. Ele observou, contudo, não havia registros formais desses crimes, entre os quais ameaças, injúrias, lesões leves e brigas em fim de festa. Reis também deixou claro que “todo morador de Charqueadas sabia” do risco de o bando matar alguém, “mais cedo ou mais tarde”. “O fato de as vítimas conseguirem empreender fuga evitou a morte de mais pessoas”, pontuou.

Às 20h46min, o juiz encerrou o primeiro dia de julgamento. Nesta quinta, o júri vai ser retomado às 9h.

Denúncia
Conforme a denúncia do Ministério Público estadual, Ronei Faleiro, pai da vítima, deixou o filho, o adolescente Ronei Júnior, de 17 anos, na noite de 31 de julho de 2015, no Clube Tiradentes, em Charqueadas. O combinado era buscá-lo às 5h do dia 1° de agosto. No local, ocorria uma festa, promovida para arrecadar fundos para a formatura no Ensino Médio da turma de Ronei. Os réus também participaram do evento. Segundo o MP, os acusados, à época na faixa etária entre 18 e 21 anos, eram conhecidos na cidade como o “Bonde da Aba Reta”.

Na volta para casa, Ronei Júnior pediu ao pai para dar carona a um casal de amigos e, na saída do clube, os réus, conforme o MP, começaram a perseguir o trio, arremessando em direção a eles garrafas de vidro. As vítimas tentaram entrar no carro do pai de Ronei, mas foram cercadas pelos acusados, que desferiram garrafadas, chutes e golpes usando soqueira.

Último a conseguir se desvencilhar e entrar no veículo do pai – também ferido -, Ronei Júnior chegou a ser socorrido em Charqueadas, mas morreu a caminho do Hospital Santo Antônio, em Porto Alegre. Depois do ataque, os réus comentaram as agressões em mensagens de WhatsApp.

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