O atual ministro da Educação, Victor Godoy, disse que nunca viu postura do ex-ministro Milton Ribeiro que o levasse a desconfiar do esquema de corrupção envolvendo pastores no Ministério da Educação. “Trabalhei mais de 14 anos na CGU (Controladoria-Geral da União) investigando e combatendo irregularidades. Com essa experiência, a gente sabe que essas coisas (corrupção) acontecem sempre de maneira velada. Nunca tive conhecimento ou vi postura do ex-ministro, na minha frente, que me levasse a qualquer tipo de desconfiança”, comentou.
“Naturalmente, os órgãos de controle têm mecanismos de investigação mais robustos e a gente espera que, se for comprovada a culpa, que seja responsabilizado”, disse. Godoy ocupava o cargo de secretário executivo, ou seja, era o número 2 da pasta, quando Milton Ribeiro era o ministro da Educação.
Godoy não entrou em detalhes sobre os documentos que foram levados pelos policiais federais durante os mandados de busca e apreensão cumpridos no MEC. Ele ressaltou que o processo tramita em segredo de justiça. “Nosso governo não compactua com irregularidades e desvios, ainda mais na educação. Nossos esforços são para que esclareçam os fatos e punam que praticou irregularidades”, finalizou.
Desde que assumiu o cargo, em 30 de março, Godoy tenta se descolar da gestão anterior e afastar o fantasma do escândalo envolvendo irregularidades no repasse de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Milton Ribeiro preso
O ex-ministro foi preso em casa, em Santos (SP) nesta quarta-feira (22). Ele será levado a São Paulo e depois transferido para Brasília. O mandado de prisão cita que ele é suspeito de corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência.
Ao todo, foram cumpridos 13 mandados de busca e apreensão e cinco de prisão em Goiás, São Paulo, Pará e no Distrito Federal. Também foram presos os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos, apontados como lobistas que atuavam no MEC.
As ordens judiciais foram emitidas pela 15ª Vara Federal Criminal da Seção Judiciária do Distrito Federal. A investigação corre sob sigilo. Em nota, o Ministério da Educação disse que “não compactua com qualquer ato irregular e continuará a colaborar com as investigações”.
Corrupção no MEC
O caso veio à tona em março após o vazamento de um áudio em que Milton Ribeiro afirma privilegiar prefeitos que foram indicados pelos pastores. Na gravação, Ribeiro diz que as prioridades dele são “atender primeiro os municípios que mais precisam” e “atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”.
“Porque foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão de Gilmar. Apoio. Então o apoio que a gente pede não é segredo, isso pode ser (inaudível) é apoio sobre construção das igrejas”, disse o então ministro da Educação.
No entanto, dias depois, alegou que não houve influência do chefe do Executivo no caso e afirmou que o envio dos recursos da pasta aos estados e municípios é feito com base em critérios técnicos.
Diante das informações, a Comissão de Educação do Senado convocou prefeitos, Victor Godoy e outras pessoas que tiveram contato com os dois pastores. Dentre as oitivas, três prefeitos confirmaram que houve pedido de dinheiro e até de ouro por parte do pastor Arilton Moura para a liberação de recursos da Educação.