O ministro Alexandre de Moraes, vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), proibiu o PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, de retirar o deputado Marcelo Ramos (PSD-AM) do posto de primeiro vice-presidente da Câmara. O parlamentar, que fazia parte do PL até o fim do ano passado, alega que vem sofrendo pressão de membros do partido para deixar o cargo devido ao posicionamento contrário ao chefe do Executivo.
Em abril, Ramos recorreu ao tribunal afirmando que o PL tenta, diuturnamente, atrapalhar o trabalho dele na vice-presidência da Câmara. De acordo com o parlamentar, o próprio presidente Bolsonaro já pediu à legenda a nomeação de outro deputado para a função.
Ramos acusa Bolsonaro de “interferir nos trabalhos da Câmara dos Deputados e, de certa forma, na própria separação dos Poderes”. O deputado lembra que a saída dele do PL teve a anuência do presidente do partido, Valdemar Costa Neto, e que, portanto, não pode ser ameaçado pelo ex-partido.
Moraes concordou com os argumentos do parlamentar e disse que ele detém autorização judicial para exercício pleno do mandato de deputado federal. Segundo o ministro, “o PL não pode, ainda que pelas vias transversas, ameaçar, impedir, influenciar ou coagir o requerente [Ramos] no exercício de suas funções dentro da casa legislativa, em razão do mandato que atualmente lhe pertence”.
Ainda de acordo com Moraes, o partido, no momento em que lhe era próprio, “não indicou outro nome para a função de vice-presidente da Câmara dos Deputados, razão porque não pode agora impedir o parlamentar eleito de exercer suas funções atribuídas internamente, de maneira regular”.
O ministro absteve o PL de praticar atos que violem o exercício de Ramos na condição de vice-presidente da Câmara. Ele também oficiou o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), a não aceitar qualquer deliberação do partido que implique o afastamento ou a substituição do deputado. A decisão é provisória, e o PL ainda pode recorrer.
Saída conturbada
Ramos se elegeu vice-presidente da Câmara, em fevereiro de 2021, quando ainda era do PL. Em dezembro, um mês depois da filiação de Bolsonaro ao partido, ele deixou a legenda.
Para sair do PL sem perder o mandato, o deputado procurou o TSE, alegando que tinha virado alvo de perseguição pessoal e política de integrantes do partido com o ingresso de Bolsonaro e conseguiu o direito de desfiliação por justa causa. Na sequência, filiou-se ao PSD. Desde então, Ramos atua na oposição a Bolsonaro.