Desfiles do grupo de Ouro encantam foliões no Carnaval do Porto Seco, em Porto Alegre

Fidalgos e Aristocratas abriu o desfile das escolas de samba do Grupo Ouro na noite de sábado

Fidalgos e Aristocratas aqueceu os foliões que ocupavam arquibancadas e camarotes | Foto: Matheus Piccini/CP

O segundo dia de Carnaval no Complexo Cultural do Porto Seco foi marcado pelo entusiasmo e a alegria do público. No sábado, às 21h, Fidalgos e Aristocratas – que sagrou-se campeã do grupo Prata em 2020 – abriu o desfile das escolas de samba do Grupo Ouro e aqueceu os foliões que ocupavam arquibancadas e camarotes.

Às 22h, a Acadêmicos de Gravataí (Gravataí) entrou na avenida do Porto Seco – que tem 360 metros de extensão – com o enredo Kambô: Vem da Floresta, o Ritual de Cura da Humanidade. Em seguida, a União da Vila do IAPI ingressou na pista e contagiou o público com o samba-enredo “Na Locomotiva da Cultura Popular, Fiz Porto Alegre Minha Morada. O Príncipe Negro de Ajudá é Força, Raiz e Fé – IAPI, Batuque, Axé”.

Nem mesmo o Carnaval fora de época e a noite fria, com temperatura de 12°C, impediram que os foliões aproveitassem a segunda noite de desfiles, que reuniu nove escolas da Capital e da Região Metropolitana. Em 2021, por conta da pandemia da Covid-19, o evento foi cancelado. O movimento intenso dentro e fora do Porto Seco revelavam a presença maciça dos foliões no evento, que registrou maior presença de público do que na noite de sexta-feira.

Já na madrugada de domingo – Dia das Mães -, foi a vez da Império do Sol (São Leopoldo) apresentar o samba-enredo “A Carne Mais Barata no Brasil Será Sempre a Carne Negra?”, que critica o racismo estrutural no país. Em seguida desfilaram Bambas da Orgia, Estado Maior da Restinga, Imperadores do Samba e Imperatriz Dona Leopoldina. Sob forte neblina, a Império da Zona Norte ingressou na avenida às 6h36min para encerrar as apresentações do grupo principal na manhã de domingo.

Musa da Harmonia da Império, Vitória Passos, 22, explica que a ideia é mostrar a importância de combater o preconceito racial. “Eu, negra, não poderia deixar de estar nessa escola que hoje me representa”, afirma. “O negro hoje vai ter voz porque não existe mais espaço pro racismo”, completa.

Após dois anos sem apresentações, Vitória – que desfila desde os 14 anos e já passou por outras escolas – comemora a retomada em alto estilo do Carnaval no Porto Seco. “O adiamento do Carnaval fez com que o nosso corpo não tivesse preparado pra esse frio. A gente está acostumada com temperaturas de mais de 30°C e está batendo 13°C”, lamenta. Ela destaca que  a adrenalina e a emoção de estar na avenida motivam os carnavalescos. “Eu acho que o amor e a emoção de estar na avenida faz com que esse frio passe. Vale tudo, realmente, pra ver a nossa escola levar esse campeonato”, observa.

Coordenador-geral dos desfiles, Juarez Gutierrez não escondia a alegria e satisfação por participar de um momento tão emblemático. “Essa retomada é extremamente importante para o Carnaval. O Carnaval não deveria nem ter se permitido esse declínio que, ainda juntando com a pandemia, nos deixou numa condição muito vulnerável”, observa.

Gutierrez afirma que os representantes das entidades carnavalescas tiveram papel fundamental para mostrar ao poder público a importância da realização do evento. “Esse protagonismo das escolas reafirma a pujança do nosso Carnaval e o compromisso com a cultura popular”, avalia. “Essa realidade que está aqui nos deixa contente”, acrescenta.

Para o carnavalesco, a festa representa a expressão da cultura popular e merece atenção de todos os governos. “O carnaval não tem que pedir favor, ele é garantido  constitucionalmente na medida que ele faz parte da cultura popular e a cultura popular deve ser fomentada proporcionalmente por todos os governos. Estamos falando de política de estado, não de governos, independente de quem lá esteja, pela política de estado que a constituição prevê, deveria todos os anos haver fomento que garantisse essa participação popular”, finaliza.

A União das Entidades Carnavalescas do Grupo de Acesso de Porto Alegre (UECGAPA) fez um balanço positivo dos desfiles dos grupos Prata e Ouro. O presidente da entidade, Richer Kniest, afirma que as apresentações da segunda noite fecharam ‘com chave de ouro’. “A parte técnica, que coube às ligas, foi um sucesso”, comemora.

Mesmo com elevado número de escolas que se apresentaram no mesmo dia, ele ressalta que as apresentações na avenida ocorreram sem sobressaltos. “Dez a 15 minutos de atraso é algo inédito, é muito difícil, ainda mais numa noite longa com nove escolas do grupo Ouro”, observa. Kniest avalia que o público gostou do espetáculo, aguardado desde o último desfile em 6 de março de 2020. “O carnaval de Porto Alegre está de parabéns, assim como as escolas e os organizadores”, destaca. “Tivemos avenida bem montada, camarotes, tudo bem funcional e funcionou”, completa.

Neste domingo, a partir das 17h40min, ocorre o desfile das convidadas Filhos da Candinha e Império dos Herdeiros. Depois, às 19h, é vez do Grupo Bronze, com 40 minutos, com as escolas Cohab-Santa Rita, Protegidos da Princesa Isabel (Novo Hamburgo), Unidos do Guajuviras (Canoas), Mocidade da Lomba do Pinheiro, Acadêmicos da Orgia e Filhos de Maria.