Pesquisa revela como desigualdade digital pode comprometer o futuro do país

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

A desigualdade de acesso à internet, a infraestrutura inadequada e a educação deficitária limitam as opções de futuro para o Brasil no contexto da transformação do mercado de trabalho. Esta é a conclusão do estudo “O abismo digital no Brasil”, realizado pela PwC Brasil em parceria com o Instituto Locomotiva. O levantamento revela que, embora 81% da população brasileira acima dos 10 anos tenham acesso à internet, somente 20% contam com uma conexão de qualidade.

Conforme os números da pesquisa, 58% dos brasileiros acessam a internet exclusivamente via smartphone, o que limita ainda mais o uso de recursos digitais para informação, aprendizado e utilização de serviços. O estudo aponta que 13,5 milhões de domicílios têm conexão de banda larga móvel via modem ou chip, sendo que 9 em cada 10 destas residências pertencem às classes C, D ou E. Esse tipo de conexão é mais lenta e de menor qualidade em comparação com a internet via cabo.

O alto preço dos serviços também foi apontado por 68% dos participantes da pesquisa como a principal causa para a ausência de redes de internet em casa. Os usuários com renda acima de 25 salários mínimos gastam mais de 30 vezes mais com telefone, internet e TV do que os usuários com renda de até dois salários mínimos.

O estudo apresenta um Índice de Privação On-Line, mostrando que a falta de qualidade no acesso à internet impacta principalmente as classes C, D e E e a população negra, enquanto menos de um terço da população pode ser considerada plenamente conectada (sobretudo brancos das classes A e B).

Entre as principais razões para a dificuldade de acesso à internet estão a baixa qualidade do sinal e o alto custo dos planos e dos equipamentos. A pesquisa demonstra que a infraestrutura é deficitária em todo o país, mas que o problema é mais grave em regiões periféricas, pois quanto menor a disponibilidade de infraestrutura (antenas), menor a velocidade de conexão.

Efeitos na educação

O estudo mostra que os estudantes brasileiros têm um dos piores desempenhos do mundo em matemática, leitura e interpretação de textos. Além disso, 87% dos brasileiros não falam um segundo idioma e apenas 9% dizem falar inglês. A pesquisa alerta que deficiências de interpretação de textos e raciocínio lógico dificultam a aquisição de conhecimentos e habilidades para explorar as oportunidades do ambiente on-line.

A falta de acesso à tecnologia na maioria das escolas brasileiras é também um dos maiores problemas da educação. Hoje, 21% dos alunos matriculados em escolas públicas da educação básica não têm acesso à banda larga, essencial para o ensino virtual. Isso significa que mais de 8 milhões de estudantes estão desconectados.

Na pandemia, a situação dos alunos sem acesso tecnológico para acompanhar as aulas piorou, aumentando a disparidade já existente em relação aos jovens na rede privada. Entre os alunos sem computador em casa em áreas urbanas, 39% estudam em escolas públicas, ante apenas 9% do ensino privado.

Qualificação digital impulsionará o PIB

O estudo contextualiza que, com o avanço da inteligência artificial e da automação, funções tradicionais no mercado de trabalho estão sendo eliminadas ou substituídas em todo o mundo. Ocupações que representavam 15,4% da força de trabalho global em 2020 encolherão para 9% até 2025. Já a participação das novas profissões (como analistas de dados e especialistas em inteligência artificial) quase dobrará, passando de 7,8% para 13,5% da base total de empregados no mesmo período.

A diferença entre o número de vagas a serem preenchidas e a dificuldade das empresas de encontrar profissionais qualificados é outro ponto de destaque da pesquisa. Entre os entrevistados, 76% afirmaram que, sem internet, é muito difícil se candidatar a uma vaga de emprego. Para 73% quem não sabe usar a internet não consegue uma boa colocação no mercado.

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