As Forças Armadas brasileiras autorizaram processos de compra de 35.320 unidades de citrato de sildenafila, conhecido como Viagra. O medicamento é indicado para o tratamento de homens com disfunção erétil, entre outras enfermidades. Dados do Portal da Transparência e do Painel de Preços do governo federal confirmaram oito pregões homologados entre 2020 e 2021. A maior parte das aquisições é direcionada à Marinha, com 28.320 unidades do medicamento. No caso do Exército, foram 5 mil comprimidos; e da Aeronáutica, foram 2 mil.
As informações foram levantadas pelo deputado federal Elias Vaz (PSB-GO), que apresentou um requerimento solicitando ao ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, explicações sobre os processos de compra. Paulo Sérgio assumiu a pasta no último dia 8. Até então, o ministro era o general Braga Netto.
“Precisamos entender por que o governo Bolsonaro está gastando dinheiro público para comprar Viagra e nessa quantidade tão alta. As unidades de saúde de todo o país enfrentam, com frequência, falta de medicamentos para atender pacientes com doenças crônicas, como insulina, e as Forças Armadas recebem milhares de comprimidos de Viagra. A sociedade merece uma explicação”, disse o deputado.
O parlamentar também já questionou outras aquisições feitas pelo Ministério da Defesa. Na semana passada, informou ter identificado compra de alimentos de luxo entre fevereiro do ano passado e fevereiro deste ano. Vaz apontou que só de filé mignon foram 557,8 mil quilos para atender aos comandos da Marinha, da Aeronáutica e do Exército, além da Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel).
O deputado também detalhou que dados da transparência do governo federal mostraram processo de compra, mediante dispensa de licitação, de 373,2 mil quilos de picanha e 254 mil quilos de salmão. No ano passado, ele e outros parlamentares do PSB denunciaram compras de alimentação dentro do governo federal, dessa vez atingindo o Ministério da Economia, com aquisição de picanha, cerveja e uísque.
Aeronáutica emite nota
Em nota, a Aeronáutica informou que o medicamento é usado para hipertensão arterial pulmonar e em pacientes com esclerose sistêmica, para melhor controle do fenômeno de raynaud em pessoas acometidos pela grave doença. A Aeronáutica ressaltou que o uso para o tratamento de disfunção erétil, principal uso indicado do viagra, “não se encontra priorizada nesse tipo de aquisição”.
“Entre os usos atualmente aprovados da sildenafila estão principalmente o tratamento para hipertensão arterial pulmonar e para melhor controle do fenômeno de raynaud numa doença grave denominada esclerose sistêmica, o que endossa e motiva a aquisição para utilização do aludido medicamento especialmente no âmbito hospitalar. A utilização para o tratamento da disfunção erétil não se encontra priorizada nesse tipo de aquisição”, informou.
No fenômeno de raynaud, o fornecimento de sangue é afetado em determinadas áreas do corpo, geralmente as extremidades (dedos das mãos, pé, orelhas e ponta do nariz).
A Aeronáutica pontuou que os medicamentos aprovados para uso em tratamentos de saúde pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) podem ser adquiridos pela instituição e prescritos pelos profissionais do Sistema de Saúde da Aeronáutica (Sisau). O plano atende mais de 285 mil beneficiários, incluindo militares da ativa, da reserva e reformados, além de pensionistas e dependentes.