Fertilizantes com potássio podem faltar ou encarecer, diz Bolsonaro sobre invasão russa

Rússia é principal fornecedor de adubos à base da substância para o Brasil

Bolsonaro e Putin, durante visita do presidente brasileiro à Rússia | Foto: Alan Santos / PR

O presidente da República, Jair Bolsonaro, declarou nesta quarta-feira que, com o conflito entre Rússia e Ucrânia, o Brasil corre risco de ficar sem potássio, mineral presente em fertilizantes utilizados por agricultores. A Rússia é o principal fornecedor de adubos à base da substância para o Brasil.

“Com a guerra Rússia/Ucrânia, hoje corremos o risco da falta do potássio ou aumento do seu preço. Nossa segurança alimentar e agronegócio (Economia) exigem de nós, Executivo e Legislativo, medidas que nos permitam a não dependência externa de algo que temos em abundância”, disse o presidente no Twitter.

Bolsonaro falou que o Brasil teria condições de produzir fertilizantes à base de potássio se a lei não impedisse a exploração do mineral em áreas da Amazônia. O chefe do Executivo citou também um projeto de lei de 2020 que permite a “exploração de recursos minerais, hídricos e orgânicos em terras indígenas”. “Uma vez aprovado, resolve-se um desses problemas”, afirmou.

Nesta quarta, o presidente postou um vídeo discursando na Câmara dos deputados, em 2016. Na ocasião ele falou sobre a dependência do potássio da Rússia. “Citei três problemas: o ambiental, o indígena e a quem pertencia o direito exploratório na foz do Rio Madeira (existem jazidas também em outras regiões do Brasil)”, disse.

A maior dependência comercial do Brasil em relação à Rússia são os fertilizantes, que representam 62% dos produtos importados daquele país, o principal fornecedor (veja ao fim da reportagem lista com os itens importados do país europeu em 2021). No ano passado, foram gastos US$ 3,5 bilhões com a compra desses itens. Por isso, é uma das questões que mais preocupam o agronegócio e o governo federal em meio à guerra após a invasão russa da Ucrânia.

O risco de desabastecimento de adubos pode provocar desequilíbrio, com disparada de preço dos alimentos e alta da inflação. O tema foi um dos assuntos discutidos por Bolsonaro e o presidente russo, Vladimir Putin, em encontro em Moscou, no início de fevereiro.

O Brasil gastou US$ 5,6 bilhões em compras da Rússia em 2021, segundo a Secex (Secretaria de Comércio Exterior), do Ministério da Economia. Um aumento de 107% em comparação com o ano anterior, quando o gasto foi de US$ 2,7 bilhões. As importações do país russo ficaram na sexta colocação.

A balança comercial entre os dois países é deficitária porque o Brasil compra mais produtos da Rússia do que vende à nação europeia. As exportações somaram US$ 1,5 bilhão em 2021, um aumento de 4% em relação a 2020. Entre os produtos mais exportados estão a soja (22%), carne de aves (11%) e café não torrado (8,4%).

Novas jazidas

Em janeiro do ano passado, o Ministério de Minas e Energia informou ter identificado na Bacia do Amazonas novas fontes do mineral, ampliando “em 70% a potencialidade sobre depósitos de sais de potássio, ou silvinita, como é denominado o mineral cloreto de potássio, do qual se extrai o potássio”.

Na ocasião, a pasta divulgou que 96,5% do cloreto de potássio utilizado para fertilização do solo eram importados. Segundo o governo, o Brasil era o maior importador mundial de potássio, com 10,45 milhões de toneladas adquiridas em 2019.

No anúncio de 2020, o ministério declarou a existência de depósitos em Nova Olinda do Norte, Autazes e Itacoatiara, com reservas em torno de 3,2 bilhões de toneladas de minério. Também há jazidas em Silves, São Sebastião do Uatumã, Itapiranga, Faro, Nhamundá e Juruti.

Principais produtos importados da Rússia em 2021, de acordo com o Ministério da Economia:
– Adubos ou fertilizantes químicos (62%)
– Carvão (8,4%)
– Óleos combustíveis de petróleo (7,6%)
– Produtos semiacabados, lingotes (6,5%)
– Demais produtos – Indústria de transformação (4,5%)
– Alumínio (2,5%)
– Prata, platina e outros metais do grupo da platina (2,4%)
– Produtos laminados planos de ferro ou aço (2,1%)
– Borrachas sintéticas (1,2%)
– Preparações e cereais de farinha (1,2%