Guerra na Europa tende a elevar preço do trigo

Analistas preveem alta nas cotações internacionais porque Rússia e Ucrânia, juntas, respondem por 30% das exportações mundiais do cereal

Foto: Biotrigo Genética/Divulgação

A invasão da Ucrânia pela Rússia deve continuar turbinando os preços do trigo no mercado internacional, avaliam especialistas do setor. Juntos, os dois países respondem por cerca de 30% dos embarques mundiais do cereal. Desde o ataque russo, as cotações do grão dispararam na Bolsa de Chicago, diante do temor de redução ou até de interrupção da oferta do leste europeu.

Para o analista Elcio Bento, da consultoria Safras & Mercado, tudo dependerá da duração do conflito. “O retrato do mercado hoje é de elevação da paridade de importação, que dá espaço para os preços (do trigo) subirem no Brasil”, afirma. Apesar de o país importar pouco trigo da Rússia – no ano passado, foram cerca de 28 mil toneladas, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) – e nada da Ucrânia, a guerra aumentará a demanda por trigo argentino, afetando as cotações no Brasil. “Ontem (quinta-feira), já vimos os preços da Argentina subindo”, observou Bento.

O presidente do Sindicato da Indústria do Trigo no Estado do Rio Grande do Sul (Sinditrigo/RS), Valdomiro Cunha, prevê como efeito imediato do conflito o aumento de custos do setor moageiro. Embora descarte o risco de desabastecimento, ele observa que a balança entre oferta e demanda pelo cereal já estava apertada. “O Estado produziu uma safra recorde (em 2021), mas também teve exportação recorde”, comenta. Em janeiro deste ano, os moinhos gaúchos importaram 81 mil toneladas de trigo, principalmente da Argentina, ante 40 mil toneladas do mesmo mês de 2021. “Isso significa que será um ano de importações maiores em função dessa diminuição da oferta de trigo nacional”, destaca Cunha.

Para o analista de Relações Internacionais da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Renan Hein dos Santos, o confronto entre Moscou e Kiev tende a estimular a expansão da área plantada com trigo na próxima safra de inverno. “Os preços em Chicago podem até se consolidar acima do patamar de 9 dólares o bushel”, prevê. Essa perspectiva, porém, corre o risco de ser limitada pela esperada alta dos fertilizantes, já que a Rússia é um dos principais fornecedores mundiais do insumo.

Na ponta do consumo, já se projeta repasse aos preços de pães e produtos de confeitaria, alerta a presidente do Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria e de Massas Alimentícias e Biscoitos do Rio Grande do Sul (Sindipan-RS), Carla Gomes. Segundo a dirigente, o segmento já sofria forte impacto da pandemia de Covid-19. “Há muitas padarias fechando, diminuindo produção”, afirma.