“Ouso dizer que o PCC está entrando em estágio mafioso”, afirma promotor do MP/SP

Grupo desenvolveu mecanismos para dar aparência de legalidade à ações

Gakiya já recebeu inúmeras ameaças de morte dos criminosos. Foto: Billy Boss/Câmara dos Deputados

Considerada a principal organização criminosa da América do Sul na atualidade, o Primeiro Comando da Capital (PCC), que teve origem em São Paulo, segue expandindo a sua atuação no Brasil e no exterior. E a sofisticação da facção, tanto na forma como ocorre o tráfico de entorpecentes quanto na lavagem de dinheiro, surpreende as autoridades.

O promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo (MP/SP), é um dos responsáveis por monitorar os passos dos principais líderes do PCC. Em entrevista ao programa Agora, da Rádio Guaíba, nesta terça-feira (25), ele relata que, ao longo dos anos, o grupo desenvolveu mecanismos para dar aparência de legalidade às ações.

“Há um ano atrás eu havia dito que o PCC estava em um estágio pré-mafioso. Hoje, eu ouso dizer que o PCC já está entrando em um estágio mafioso. Nós fizemos uma operação, no fim de 2020, e descobrimos que a maior parte do dinheiro do PCC não é guardada no Brasil. Está sendo enviada para o Paraguai, através de doleiros”, afirma.

No último domingo, o Portal R7 revelou que um dos chefes do PCC, encontrado morto na zona leste de São Paulo, era investigado por ter ligações com outra liderança morta recentemente. Cláudio Marcos de Almeida, conhecido como Django, agia em parceria com Anselmo Fausta, executado em dezembro com dezenas de tiros na capital paulista.

Fausta era um poderoso traficante internacional, dono de patrimônio de aproximadamente R$ 500 milhões. A RecordTV mostrou que ele ganhou quase R$ 25 milhões na Mega-Sena a partir de cotas de um bolão. A compra das cotas dessa aposta está sob suspeita de ter sido utilizada para lavar dinheiro de atividades ilícitas.

“Todo o dinheiro que é arrecadado é levado para hoteis de luxo, e entregue em malotes para doleiros. Eles entram em contato com bancos, e o montante que veio totalmente ilícito do tráfico de entorpecentes e essas pessoas levam o dinheiro com nota fiscal para o Paraguai, com direito a proteção de escolta armada”, explica Gakiya.

Instabilidade

O assassinato de Fausta desencadeou um momento de instabilidade na principal facção criminosa brasileira. Há poucos dias, dois corpos foram encontrados decapitados em Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo, e na cidade de Suzano, na região metropolitana. A polícia investiga a ligação dessas mortes com a execução de Fausta.

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