Suinocultores apontam prejuízos na atividade

Cálculos da Acsurs indica que custo de produção de um quilo do animal, de R$ 7,50, supera de longe o preço, de R$ 5,34

O declínio contínuo dos preços do suíno pressiona os criadores gaúchos. O valor pago a eles pelo quilo vivo fechou a semana em R$ 5,34, ante R$ 7,41 no mesmo período em 2021, segundo a Associação dos Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs). Com a desvalorização e a alta dos custos de produção – resultado da disparada do preço do milho usado nas rações –, o presidente da entidade, Valdecir Folador estima que os produtores estão tendo um prejuízo de R$ 312 por animal vendido.

Hoje, para produzir um quilo de suíno – um animal pesa de 120 a 125 quilos –, o desembolso é de R$ 7,50, diz Folador, que atribui a queda dos preços ao excesso de oferta. “A produção cresceu muito nos últimos seis anos”, observa, lembrando que, no período, exportou-se mais e houve aumento de consumo no mercado interno. A demanda, porém, não acompanhou o ritmo de crescimento da oferta, explica o presidente da Acsurs.

A suinocultura também sente o peso da estiagem no Estado, que devastou a safra de milho e reduziu ainda mais a oferta do grão, responsável por 68% do custo de produção do setor. Segundo Folador, a saca de 60 quilos do cereal é negociada no Rio Grande do Sul por preços entre R$ 100 e R$ 110, e a relação de troca é desfavorável aos suinocultores. Na mesma época do ano passado, o valor do quilo do suíno correspondia a seis quilos do grão. “Hoje, com um quilo de suíno dá para comprar pouco mais de três quilos de milho”, calcula o dirigente.

Para o produtor Mauro Gobbi, a situação enfrentada pelos suinocultores é um paradoxo que pode ser explicado em parte pela própria eficiência do setor, que nos últimos anos aumentou não apenas a produção, mas também os níveis de produtividade. Há quatro anos, diz Gobbi, a suinocultura gaúcha produzia em média de 25 a 27 leitões por porca ao ano. “Hoje, qualquer granja está produzindo acima de 30”, compara Gobbi, que é sócio-proprietário da granja Suinocultura Gobbi, em Rondinha.

A diminuição dos embarques de carne suína para a China também impactou o setor, afirma Gobbi. Maior consumidor mundial do produto, o país asiático luta desde 2018 contra a peste suína africana, que dizimou parte de seu rebanho, mas está restabelecendo o plantel.

Com 64 anos de operação, a granja Gobbi atua com 150 suinocultores parceiros e produz em torno de 250 mil suínos por ano. “Já passamos por todo tipo de crise e ficamos apreensivos”, relata Gobbi. Ele, porém, acredita em uma melhora após o primeiro trimestre. “O (preço do suíno) baixou demais, está fora da realidade”, avalia.

Reportagem: Patrícia Feiten / CP Rural