Júri da Kiss: ex-prefeito Schirmer vai ser ouvido na quarta-feira

Previsão do Tribunal de Justiça é de que oitiva comece pela manhã; até o momento, 20 das 28 testemunhas prestaram depoimento

Foto: Mateus Raugust / PMPA / CP

O ex-prefeito de Santa Maria e atual secretário de Planejamento e Assuntos Estratégicos de Porto Alegre, Cezar Schirmer, deve prestar depoimento no julgamento que busca esclarecer os fatos sobre a tragédia da bate Kiss, que vitimou 242 pessoas e feriu outras 636, na próxima-quarta-feira. A assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) indicou, nesta segunda-feira, que a oitiva de Schirmer vai se iniciar pela manhã.

O pedido para Schirmer comparecer ao júri partiu do advogado do réu Elissandro Spohr (Kiko), Jader Marques, sendo aceito pelo juiz Orlando Faccini Neto. O emedebista era prefeito de Santa Maria na época em que ocorreu o incêndio.

Ainda conforme a assessoria do TJ-RS, na quinta-feira a previsão é de que o promotor de Justiça Ricardo Lozza preste depoimento. Ele conduziu o termo de ajustamento de conduta (TAC) que exigiu obras para melhorias na boate antes do incêndio e que liberou a casa noturna para funcionar.

Julgamento chega ao sexto dia

Nesta segunda, quatro pessoas prestaram depoimento no julgamento – que se tornou o mais longo da história da Justiça gaúcha ainda na noite de domingo.

A primeira testemunha a ser ouvida, Stenio Rodrigues, depôs por mais de três horas. O ex-promoter relatou como eram promovidas as festas na casa noturna, e disse que nunca tinha visto um show pirotécnico no local. “Havia um planejamento para limitar a 800 o número de pessoas que entravam na casa”, ressaltou. “Quando a festa não estava muito boa, a orientação era trancar a fila”, explicou Stenio, referindo-se a uma estratégia utilizada para dar a sensação ao público externo de que havia movimento na casa noturna.

Além disso, ele revelou que esteve na boate na noite da tragédia, mas deixou o local por volta da meia-noite. Ainda durante a oitiva, Rodrigues afirmou ter sido coagido em depoimento à Polícia Civil.

Após o depoimento da testemunha arrolada pela defesa de Elissandro Spohr, prestaram esclarecimentos mais três pessoas: Wilian Machado e Nathalia Daronch, sobrinho e esposa de Spohr, respectivamente, e Márcio de Jesus dos Santos, testemunha arrolada pela defesa de Marcelo de Jesus dos Santos, irmão dele.

Nos depoimentos dos familiares de Elissandro Spohr, sobrinho e esposa relataram que o sócio da boate não queria a instalação de espuma, por acreditar que ela deixava o local com aparência ruim, e que o matéria havia sido indicado por um profissional.

“Eu me recordo que quem fez a indicação das espumas foi o Engenheiro Samir e me recordo que as espumas foram compradas da empresa dele”, disse Nathália.

Além disso, os dois revelaram que avistaram poucas vezes Mauro Hoffmann, outro réu, na boate, e que não sabiam qual era realmente a função dele na casa noturna.

Nathália, grávida de quatro meses na época da tragédia, ainda relembrou que durante o incêndio viu Spohr pedindo para as pessoas deixarem a casa noturna. Ela também garantiu que o marido não sabia que a banda Gurizada Fandangueira utilizava artefato pirotécnico durante as apresentações.

No entanto, após o depoimento de Wilian e Nathália, Márcio de Jesus dos Santos apresentou, segundo ele, a versão do grupo musical. Conforme o ex-percurssionista, a banda sempre usou artefatos pirotécnicos em que locais que permitiam. Ele também assegurou que Spohr sabia do uso do material.

Em depoimento que durou mais de três horas, Márcio também afirmou que “todos que estavam dentro da Kiss são vítimas. Sem exceção”. Ele também relatou que o ex-produtor da banda, Luciano Bonilha Leão, que também é réu na ação, era uma pessoa proativa e sempre disposta a ajudar.

Tensão

No início da sessão de hoje, o clima esquentou no júri. Na oportunidade, advogados que representam a defesa dos réus questionaram o número de vítimas (242 mortos e 636 feridos), definido pela denúncia do Ministério Público. O argumento foi o de que a testemunha (Stenio), que saiu da boate antes do incêndio começar, consta na lista.

“As balizas deste processo são os processos que nos trouxeram até aqui. Ponto”, ponderou o juíz Orlando Faccini Neto. “Não é possível que a gente esteja em um processo em que só o juíz quer caminhar. Vamos trabalhar. Vamos ouvir as pessoas!”, complementou, ao pedir para que os jurados desconsiderem a afirmação da promotoria, de que o inquérito teria mais vítimas do que o processo

Depoimentos desta terça

Conforme o juiz Orlando Faccini Neto, o julgamento vai ser retomado na manhã desta terça, a partir das 9h. Na ocasião, devem prestar depoimento, ao menos, mais três testemunhas: Venâncio da Silva Anschau, arrolado pela defesa de Marcelo de Jesus dos Santos; Nivia da Silva Braido, arrolada pelo Ministério Público; e Gerson da Rosa Pereira, arrolado pela defesa de Elissandro Spohr (Kiko).

Até o momento, das 28 testemunhas previstas, 20 – sendo 12 vítimas, 6 testemunhas e 2 informantes – já prestaram depoimento. No fim da tarde desta segunda-feira, a defesa de Mauro Hoffmann desistiu da testemunha Sandro Cidade, que tinha depoimento previsto para esta terça.

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