Depoimento de ex-barman da casa noturna encerra terceiro dia de julgamento do caso Kiss

Durante oitiva, vítima afirmou que espuma foi colocada a pedido de Elissandro Spohr (Kiko) e relembrou que salvou de 15 a 20 pessoas; duas testemunhas prestam depoimento neste sábado

Depoimento de ex-barman, Érico Paulus Garcia, emocionou boa parte do público que acompanha o julgamento / Foto: Ricardo Giusti/Correio do Povo

O terceiro dia de julgamento do caso Kiss foi marcado pelo depoimento de mais quatro testemunhas. Responderam questões no júri nesta sexta-feira: Daniel Rodrigues da Silva, testemunha de acusação; Gianderson Machado da Silva, que de testemunha de acusação passou para informante; Pedrinho Bortoluzzi, arrolada pela defesa de Marcelo de Jesus dos Santos; além de Érico Paulus Garcia.

O julgamento foi retomado por volta das 9h30min, com o depoimento de Daniel Rodrigues da Silva, arrolado pelo Ministério Público. O depoente é administrador da loja onde foram comprados os fogos que deram início ao incêndio, que acabou vitimando 242 pessoas e ferindo outras 636.

Durante as perguntas, ele reiterou que o artefato pirotécnico comprado, na ocasião, por Luciano Bonilha Leão, então produtor da banda Gurizada Fandangueira, não poderia ser utilizado em ambientes internos. O proprietário do estabelecimento também relatou que não conhece pessoalmente os réus, que nunca vendeu diretamente para nenhum deles, e que a venda dos fogos usados na Kiss havia sido feita por um funcionário temporário da loja.

Em parte do depoimento, que durou pouco mais de 2 horas e foi, até o momento, o mais conturbado no tribunal, o advogado Jean Severo, representante de Bonilha, entrou em conflito com a testemunha, quando ela se recusou a responder se a loja tinha, ou não, sido fechada pela Polícia Civil por irregularidades. O atrito em plenário seguiu até que os trabalhos fossem interrompidos. Pais das vítimas e sobreviventes, indignados com a argumentação dos advogados, deixaram o plenário.

Após o testemunho de Daniel, foi a vez de Gianderson Machado da Silva, funcionário da empresa de extintores de incêndio utilizados para combater as chamas na Boate Kiss.

Com cerca de vinte anos de experiência na atividade, Silva ainda ressaltou que normalmente, o cliente pode verificar se há algum defeito no extintor para que a empresa possa resolver o quanto antes.

Segundo ele, a empresa fazia a troca de peças defeituosas, em caso de necessidade. Silva disse que problemas podem acontecer dentro do prazo de garantia, que a empresa cobria. Nesses casos, o serviço não era cobrado.

Mais cedo, antes do depoimento, que durou mais de 4 horas, a defesa de Mauro Hoffmann, representada pelo advogado Bruno Seligman, pediu anulação do testemunho de Silva devido a filha dele ter usado as redes sociais para pedir a condenação dos réus. Diante do pedido, o juiz Orlando Faccini Neto decidiu ouvi-lo como informante.

Após os relatos do funcionário da empresa de extintores de incêndio foi a vez da primeira testemunha de defesa depor. Arrolado pelos advogados de Marcelo de Jesus dos Santos, Pedrinho Bortoluzzi, que é chefe do ex-vocalista da banda falou por cerca de 20 minutos.

Durante as perguntas, ele afirmou que o réu estava com dificuldade de arranjar trabalho após o incêndio na Kiss, e que ele e a família são humildes. Além disso, Bortoluzzi destacou que Marcelo sofre com o que aconteceu.

Por fim, o depoimento mais emocionante do dia encerrou os trabalhos desta sexta. Érico Paulus Garcia, foi o sexto sobrevivente a depor no julgamento. Na ocasião do incêndio, a vítima, que atualmente é policial militar, era o barman da casa noturna.

Em relato que levou boa parte do público presente às lágrimas, ele relembrou o trajeto que realizou para sair da boate. Durante depoimento, Garcia também detalhou que ingressou, rastejando, no interior da casa noturna diversas vezes e conseguiu salvar a vida de 15 a 20 pessoas. Questionado pela promotoria sobre se considerar um herói, ele respondeu que não e disse ter feito o que achava correto.

Vale ressaltar que antes do depoimento de Garcia, o advogado de Mauro Hoffman, Bruno Seligman, pediu que fosse evitado que imagens fortes fossem reproduzidas para toda plateia, já que alguns familiares das vítimas acabaram saindo do julgamento após passar mal. Quanto ao pedido, o juiz Orlando Faccini considerou e respondeu que irá avaliar caso o caso.

Os trabalhos foram encerrados por volta das 20h10 desta sexta e serão retomados a partir das 9h deste sábado. Para o quarto dia de julgamento, estão previstos os depoimentos de duas testemunhas: Alexandre Marques, arrolada pela defesa de Elissandro Spohr (Kiko), e Maikel Ariel dos Santos, vítima indicada pela assistência de acusação.

Acordo

Para dar maior agilidade ao julgamento, com previsão de 15 dias de duração, o Ministério Público e as defesas dos quatro réus selaram um acordo sobre a redução de testemunhas. Com isso, 29 pessoas serão escutadas ao longo do processo – 2 vítimas, 16 testemunhas e 1 informante. Desse total, dez já foram interrogadas.

Testemunhas descartadas

– O MP desistiu da testemunha Stenio Rodrigues Fernandes, que passa a ser da defesa de Elissandro Spohr.
– A Assistência de acusação abriu mão de ouvir a vítima Gustavo Cadore.
– A defesa de Mauro Hoffmann desistiu de ouvir a testemunha Audrey Tessele Borin.
– Já a defesa de Elissandro desistiu da testemunha Roberto Carlos Meza Niella.
– A defensora de Marcelo de Jesus dos Santos informou que já havia desistido de 1 testemunha na fase processual, mantendo as 4 já previstas para serem ouvidas.
– Luciano Bonilha Leão não tem testemunhas de defesa arroladas.

Já foram ouvidos

DIA 1

Kátia Pacheco (VÍTIMA)
Kelen Ferreira (VÍTIMA)

DIA 2

Emanuel Pastl (VÍTIMA)
Jéssica Montardo Rosado (VÍTIMA)
Miguel Ângelo Pedroso (TESTEMUNHA DE ACUSAÇÃO)
Lucas Cauduro Peranzoni (VÍTIMA)

DIA 3

Daniel Rodrigues da Silva (TESTEMUNHA DE ACUSAÇÃO)
Gianderson Machado da Silva (INFORMANTE – NÃO É MAIS TESTEMUNHA)
Pedrinho Bortoluzzi (TESTEMUNHA ABONATÓRIA DE MARCELO)

Érico Paulus Garcia (VÍTIMA)