Alta do INPC revela fragilidade econômica dos mais pobres

Índice ficou abaixo do IPCA em outubro, mas 1,2 ponto percentual acima no acumulado de 12 meses

| Foto: Marcello Casal/Agência Brasil

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) de outubro, divulgado peloInstituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) mostrou que a pressão inflacionária é mais forte entre os mais pobres. O INPC analisa a cesta de consumo das pessoas que ganham de um a cinco salários mínimos. No acumulado de 12 meses, o índice revelou uma inflação de 10,5%, maior que a do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que ficou em 9,3%.

O aumento do índice no mês de outubro, em relação a setembro, foi de 1,01%, mais baixo que o do IPCA, que registrou o valor mais alto para o mês desde 2002, de 1,25%. Isso ocorreu, de acordo com a economista e pesquisadora daCompanhia de Planejamento do DF (Codeplan) Jéssica Milker, porque o peso inflacionário dos transportes tem um peso menor para a faixa mais pobre da população.

Ao mesmo tempo, a faixa mais pobre dos brasileiros teve um pequeno alívio na conta de luz, o que ajudou a puxar o valor da inflação de outubro para baixo. “O governo federal decidiu reduzir a bandeira tarifária para as famílias do programa Tarifa Social. Reduziu a bandeira de escassez hídrica para a bandeira vermelha de patamar 2. Isso fez com que o gasto de energia elétrica para essas famílias fosse menor”, explicou a economista.

A pesquisadora destacou que a participação dos grupos de transportes, alimentação e bebidas, habitação e outros na composição do INPC segue o mesmo padrão do IPCA. “As contribuições dos grupos para a alta [nos transportes] foram menores, enquanto a de baixa [na habitação] foi maior”. “O caso do transporte, como a faixa de renda pesquisada do INPC tem um gasto menor com passagem aérea, perceberam menos o aumento de preços”, afirmou.

“Em compensação, em alimentos e bebidas, o INPC tem um peso maior. Mas, como a energia elétrica pesa bastante no orçamento das famílias de mais baixa renda pesquisadas no INPC, a percepção de queda foi bastante superior à percebida pelo IPCA. O acumulado de 12 meses mostra, no entanto, que as famílias de baixa renda estão com inflação superior à percebida pelas famílias do IPCA”, apontou.

Isso mostra, segundo a pesquisadora, que o poder de compra das famílias mais pobres continua a se deteriorar no país, mesmo que o resultado mensal tenha sido mais suave para essa parcela que abrange a maioria dos brasileiros. “O valor do acumulado é ruim, pois deteriora o poder de compra das famílias, por ser alto, e porque as famílias de baixa renda estão sofrendo mais com o aumento de preços. [Essas famílias] têm baixo poder aquisitivo, e estamos diminuindo, deteriorando o poder de compra dessas famílias de forma mais intensa que a média do país”, alertou.