Guedes chama ministro astronauta de ‘burro’ durante reunião

Evento com comissão da Câmara foi marcado pela maneira como ministro se referiu a Marcos Pontes e a outros colegas ministros

Foto: Alan Santos / PR

O ministro da Economia, Paulo Guedes, chamou o ministro de Ciência e Tecnologia, o astronauta Marcos Pontes, de “burro” em reunião com deputados federais, assessores e equipe técnica da Economia, na última terça-feira. O ministro se mostrava irritado com as queixas de corte do orçamento da Pasta, ressaltando que Pontes não sabe gerir recursos. No encontro, Guedes se referiu ao colega de Esplanada a todo momento como “astronauta”, sem chamá-lo pelo nome.

A situação ocorreu durante reunião do ministro com integrantes da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara, para discutir justamente o corte feito na pasta de tecnologia. O ministro Marcos Pontes já se pronunciou sobre o corte de R$ 600 milhões, equivalente a 90% dos recursos, dizendo que foi pego de surpresa.

Durante a reunião, Guedes negou que tenha havido cortes, e afirmou que apenas remanejou os recursos para outras áreas. O ministro ressaltou que a Pasta do “astronauta” não executou mais de 50% dos recursos e que, em vez de deixar os valores parados, os direciona a outros ministérios, quando solicitado.

A reunião teve início com uma exposição dos técnicos da Economia. A todo momento, conforme o R7 apurou, Guedes chamava Marcos Pontes de “incompetente” na gestão do dinheiro público, dizendo que o ministro é astronauta e “vive no espaço”. Quando o chamou de “burro”, ele ressaltava que ainda há recursos na Pasta que estão parados. “É burro? Olha o número lá”, afirmou. Em determinado momento, questionou sobre o motivo pelo qual o colega não executava recursos “ao invés de ficar soltando foguete”, afirmando que quem define as prioridades são os ministros.

A reunião durou duas horas e arrancou risadas de alguns. Além de dizer que não havia cortes, Guedes afirmou que as decisões sobre remanejamento eram da Casa Civil, citando nominalmente o ministro Ciro Nogueira, articulador do Centrão. Segundo Guedes, as decisões são políticas e passam por Ciro.

O ministro criticou de maneira reiterada outros colegas, dizendo que não tinham prioridade, não sabiam executar recursos, afirmando que às vezes se pergunta sobre o motivo pelo qual ele próprio continua na Economia. Ao falar sobre outros ministros, criticou especificamente o do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, e do Trabalho, Onyx Lorenzoni.

Guedes frisou que basta o Ministério de Ciência e Tecnologia enviar o pedido e mostrar qual a necessidade que ele redireciona recursos, mas ressaltou que a Pasta tem R$ 500 milhões em caixa. Em determinado momento, em meio às críticas feitas a Pontes, disse que o ministro é “cientista” e “inteligente”.

No encontro, o ministro ainda afirmou que tentaram “derrubá-lo” do cargo. A semana passada foi marcada por especulações sobre a saída de Guedes, depois de uma debandada de secretários após a decisão do governo de desrespeitar o teto de gastos para garantir o programa social Auxílio Brasil no valor de R$ 400, quando o governo poderia ofertar R$ 300 sem ultrapassar o teto. Na sexta-feira (22), o presidente Jair Bolsonaro foi ao prédio da Economia para manifestar apoio ao ministro, que em seguida falou com a imprensa. Na ocasião, Guedes afirmou que havia pressão da ala política por um valor mais elevado do benefício.

A reportagem procurou o Ministério da Economia, mas ainda não obteve retorno. O espaço segue aberto para manifestação. O ministro Marcos Pontes está em Dubai, em agenda oficial, e sua assessoria informou que ele não se pronunciaria sobre o episódio nesta quarta-feira. A assessoria do ministro Rogério Marinho informou que ele não iria se pronunciar. O R7 não conseguiu contato com o ministro Onyx Lorenzoni.

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