CPI: relatório traz cinco núcleos que atuavam por desinformação

Relatório será lido nesta quarta-feira

| Foto: Pedro França / Agência Senado

A última minuta do relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 elaborada pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), e obtida pelo R7, aponta para a existência de uma organização formada por cinco núcleos que atuou na divulgação de desinformação no âmbito da pandemia. Segundo o documento, há um núcleo de comando; um formulador; o núcleo político; o de produção e disseminação das fake news; e o de financiamento.

O formulador, segundo documento, atua de dentro do Palácio do Planalto e é conhecido como “gabinete do ódio”. Fazem parte dele, segundo documento, Carlos Bolsonaro, o assessor da presidência da República Filipe Martins e outras cinco pessoas. “O objetivo primordial dessa organização é gerar engajamento da base de apoio popular ao Presidente da República, ao mesmo tempo em que promove ataques para enfraquecer seus adversários políticos”, diz o texto.

Outro núcleo, de acordo com a minuta, é o que oferece suporte político às decisões da organização, formado por deputados federais, sendo eles: o líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR); Osmar Terra (MDB-RS); Carlos Jordy (PSL-RJ); Carla Zambelli (PSL-SP); e Bia Kicis (PSL-DF). O documento cita ainda o empresário Carlos Wizard, o ex-ministro Ernesto Araújo, o ex-presidente da Funag (Fundação Alexandre de Gusmão), Roberto Goidanich, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), o ministro do Trabalho e Previdência Onyx Lorenzoni e o pastor Silas Malafaia. “Eles incentivaram as pessoas ao descumprimento das normas sanitárias impostas para conter a pandemia e adotaram condutas de incitação ao crime”, pontuou.

Comando

O presidente Jair Bolsonaro e três dos filhos dele — o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos) — aparecem como integrantes do núcleo de comando. Segundo o texto, “esse núcleo tem a função de dirigir a organização e orientar estrategicamente as ações realizadas nos níveis inferiores da hierarquia, dando-lhes diretrizes e informando-lhes prioridades de ação”.

Conforme o relator, a organização atuava divulgando desinformação sobre a pandemia, com informações falsas sobre o vírus, críticas às medidas não farmacológicas, questionamentos em relação às vacinas e incentivo à não adoção de ações indicadas pela comunidade científica para conter a disseminação do coronavírus, como uso de máscara.

O relator frisou que a investigação da CPI reuniu elementos que evidenciam omissão do governo federal na conscientização da população sobre a pandemia. O documento cita momentos em que Eduardo, Flávio e Carlos divulgaram desinformação. No caso do deputado, o relator lembra que, em dezembro do ano passado, quando o chamado tratamento precoce já era considerado ineficaz pela comunidade científica, o deputado continuava a defendê-lo.

A minuta também destaca que Flávio Bolsonaro é um “nome frequentemente citado nas conversas dos grupos de Whatsapp dos disseminadores que tiveram seus sigilos quebrados” e tem relações diretas com perfis falsos e disseminadores. “Relatório da Polícia Federal (PF) em poder desta CPI mostra que perfis falsos utilizados para disseminar desinformação e ameaças eram operados por assessores de Flávio Bolsonaro”, explica o relatório.

Documento elaborado por Renan Calheiros cita que. no caso de Carlos Bolsonaro, as investigações localizaram citações a Carlos e suas orientações sobre conteúdos em grupos de Whatsapp, “formados principalmente por disseminadores e integrantes do já citado ‘Gabinete do Ódio’. “Além disso, postagens em suas redes sociais demonstram também seu empenho na disseminação de fakes news e teorias negacionistas”, relata.

Produção e disseminação

Segundo a minuta do relatório, o núcleo de produção e disseminação de fake news é formado por três grupos: os influenciadores sociais, os veículos de mídia organizados e os perfis anônimos. Aqui, Calheiros cita 15 sites que, segundo ele, tentam aparentar um funcionamento como empresas jornalísticas. Ele também cita cinco influenciadores na disseminação de desinformação e 17 influenciadores digitais, com muitos seguidores.

Outro núcleo citado pelo relator é o do financiamento, que, segundo ele, “fornece os recursos materiais e financeiros necessários para sustentar economicamente a organização e permitir a realização das ações decididas pelo núcleo de comando”. “Entre outras ações, esse núcleo gera o impulsionamento das publicações, consoante determinação do núcleo de comando”, pontuou.

O relator cita os empresários Otávio Fakhoury, vice-presidente do Insituto Força Brasil, investigado pela CPI, e Luciano Hang, dono das lojas Havan, como integrantes do núcleo de financiamento.

Bolsonaro

Na minuta do documento, que pode conter algumas alterações antes da sua leitura, nesta quarta-feira, Calheiros aponta que havia a utilização de recursos da administração pública para desinformação a população. O relator cita a propaganda antivacina, que disseminava informações falsas sobre riscos dos imunizantes, e que o próprio presidente da República praticou abertamente o discurso antivacina.

“Com efeito, Jair Bolsonaro, nos últimos dezoito meses, foi autor de declarações que minimizaram a pandemia, que promoveram tratamentos sem comprovação científica e que repudiaram as vacinas, validando, na mais alta esfera política e midiática, a desinformação circulada nos perfis oficiais de instituições federais. Tais discursos comprovam que o Presidente da República minimizou o impacto da pandemia, que vitimou mais de 600 mil brasileiros, utilizando sua função pública para tentar legitimar informações falsas”, ressaltou.

Segundo o relatório, a postura do mandatário gerou consequências na opinião pública e na condução das ações de combate ao vírus. “Ao assumir a Presidência da República, ele (Bolsonaro) assume as responsabilidades e competência do cargo em que ocupa, de forma que suas declarações têm a natureza de decisões oficiais, que influenciam fortemente à população. Desta maneira, conclui-se que o Presidente foi ator relevante na propagação de comunicação falsa em massa no que se refere à pandemia de Covid-19”, frisou.

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