Polícia Civil indicia por racismo estudante que enviou mensagens ofensivas para outro aluno da Ufrgs

Inquérito da Delegacia de Combate à Intolerância (DPCI) foi remetido à Justiça

Caso foi investigado pela equipe da delegada Andréa Mattos | Foto: PC / Divulgação / CP

A Delegacia de Combate à Intolerância (DPCI) da Polícia Civil indiciou por crime de racismo qualificado o estudante de doutorado no curso de Filosofia da Ufrgs, de 29 anos, que enviou mensagens ofensivas contra um aluno do curso de Políticas Públicas, de 24 anos, e a namorada deste, de 23 anos. A pena é de dois a cinco anos de reclusão. O universitário nega o crime.

O inquérito, conduzido pela delegada Andréa Mattos, foi remetido na tarde desta sexta-feira à Justiça. “É cristalina a afirmação de que a ofensa perpetrada pelo estudante, bem como as demais publicações de sua autoria, irradiaram-se a um grupo indeterminado de pessoas e induziram ou mesmo incitaram o preconceito”, explicou a titular da DPCI.

“O crime de racismo é mais amplo do que o de injúria qualificada, pois tem por objetivo atingir uma coletividade indeterminada de indivíduos, discriminando toda a integralidade de uma raça”, acrescentou.

Entre outras ofensas, o universitário disse que a namorada merecia algo “muito melhor” e que os filhos do casal perderiam “uma enorme carga genética prussiana”. Nas mensagens, ele manifestou ainda nojo pelo namorado dela pois os negros “exalam um cheiro típico, liberam substâncias no ambiente e na troca de parceiros”, bem como defendeu a superioridade da raça branca.

Liderado pelo Centro Acadêmico de Políticas Públicas da UFRGS, os diretórios estudantis da universidade circulam um abaixo-assinado para que o estudante indiciado seja expulso da instituição.

A vítima havia denunciado os ataques racistas pelas redes sociais. “Quero deixar claro aqui que não há nada que eu me orgulhe mais na vida do que ser negro. Nada. Acredito que isso me oferece uma base histórica e força espiritual para seguir em busca dos meus ideais, tão caros a mim e tão importante àqueles que se sentem representados pelo meu trabalho. Também quero deixar claro que não uso minha raça como bengala, ao contrário de muitos negros que adotam um discurso subalterno para ascensão social (e que estão no seu direito), enxergo minha cor como meu maior amuleto”, declarou na ocasião.

Já o Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Ufrgs divulgou nota oficial sobre o caso na época, tendo aberto inclusive um processo disciplinar. “A respeito de recentes denúncias de ataques racistas perpetrados por um membro de seu corpo discente, e diante do caráter pouco informativo das notas publicadas recentemente por outras instâncias da Universidade, o Programa de Pós-Graduação em Filosofia vem tornar públicas, não apenas suas posições, mas sobretudo as ações que vem tomando para ver punidas e coibidas quaisquer formas de discriminação, racismo, injúria racial, desrespeito e assédio, em ações ou palavras, no âmbito do Programa”, manifestou-se.