Prevent Senior obrigou médicos a entregar “Kit Covid” para “economizar em internações”, relata advogada

Bruna Morato relatou ainda a existência de um plano de incentivo à cloroquina para evitar um possível lockdown no País

Foto: Reprodução / Agência Senado

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, nesta terça-feira, a advogada Bruna Morato, que representa 12 médicos que denunciaram a operadora Prevent Senior, disse que a empresa adotou a disponibilização de medicamentos sem eficácia comprovada contra Covid-19, o chamado ‘kit Covid’, como uma estratégia de redução de custos. Segundo ela, a empresa preferia entregar o kit em vez de internar pacientes. Segundo a advogada, também foram feitos relatos em que plantonistas eram obrigados a prescrever o kit, sob a ameaça de demissão em caso contrário.

Bruna Morato pontuou que mensagens eram enviadas com o argumento que a operadora de saúde não tinha como suportar tantas internações em UTI. Perguntada pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL), se o uso dessa medicação sem eficácia era uma maneira de a Prevent se aproximar do governo federal para obter benefícios, a advogada afirmou que “essa era uma consequência”. “A aproximação já havia sido feita quando ela se propôs a fornecer dados que fossem favoráveis ao tratamento preventivo ou tratamento precoce”, pontuou.

Bruna Morato afirmou ainda que havia uma aliança entre a operadora e figuras ligadas ao Ministério da Economia, com um plano para incentivar o uso da cloroquina em pacientes com Covid-19, mesmo sem eficácia comprovada contra a doença, buscando fazer as pessoas se sentirem seguras para circular pelas ruas e evitando uma parada geral do país.

“A Prevent estava ali para colaborar com essas pessoas. É como fosse uma troca, que chamamos na denúncia de pacto. Alguns descreveram como aliança. O que me foi dito é que havia um alinhamento ideológico para conceder esperança para as pessoas saírem nas ruas. E essa esperança tinha um nome: cloroquina”, afirmou.

A aliança teve início depois que a operadora começou a ser criticada pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, segundo a advogada. Ela explicou que conforme relatado pelos médicos representados por ela, o diretor-executivo da Prevent, Pedro Benedito Batista Júnior, tentou se aproximar de um outro médico ligado a Mandetta para cessar as críticas. A aproximação não deu resultados, e ele começou a tentar se aproximar de supostos assessores do governo, alinhados ao Ministério da Economia.

Sem lockdown 

As informações foram repassadas aos médicos da Prevent, que denunciaram a operadora em uma reunião interna. Na ocasião, falou-se que havia um interesse de figuras do Ministério da Economia em evitar o “lockdown”, ou fechamento completo de comércios e serviços visando evitar a disseminação do coronavírus.

“Existia um plano para que as pessoas saíssem nas ruas sem medo”, afirmou Bruna. Segundo ela, a estratégia se baseou no aconselhamento de dois médicos – Anthony Wong e Nise Yamaguchi -, e do virologista Paolo Zanotto, os três integrantes do chamado “gabinete paralelo” que assessorou o presidente da República, Jair Bolsonaro, com informações negacionistas no âmbito da pandemia.

“Estavam preocupados com o lockdown. Por conta disso, as informações que foram levadas aos médicos em uma reunião é que teria uma colaboração da instituição em relação à produção de informações que convergissem com essa teoria, de que é possível você usar um determinado tratamento como proteção. Eles chamavam isso de tratamento precoce, depois começaram a chamar de tratamento preventivo”, completou a advogada.