As eleições alemãs serão realizadas neste domingo (26), mas sem um dos nomes mais conhecidos mundialmente: Angela Merkel. Após 16 anos como chanceler da Alemanha, uma das líderes mundiais mais influentes deixará o cargo após quatro mandatos consecutivos.
Durante sua caminhada no poder, Merkel tirou a Alemanha de diferentes crises econômicas e reduziu a taxa de desemprego do país de 11,2% para apenas 5,7%. Entretanto, a chanceler pode ver o candidato do seu partido União Democrata Cristã, Armin Laschet, perder para o concorrente Olaf Scholz, do Partido Social Democrata.
Para alguns especialistas, a força econômica da Era Merkel não se traduz nas questões políticas. Apesar de ter se tornado a maior economia do continente, a Alemanha viu a União Europeia se enfraquecer durante os anos e perder um de seus grandes membros, o Reino Unido.
O professor de relações internacionais da Facamp James Onnig explicou ao R7 que pode ter faltado a Merkel mais voz nos assuntos políticos ao longo dos anos.
“O cargo chefe da economia [da Europa] não foi o cargo chefe da política. A Alemanha lavou as mãos em certas ocasiões, para muitas situações. Deixou a França ocupar o cargo de porta-voz informal. Nunca é no ponto de vista oficial, mas sim de geopolítica.”
Internamente, a chanceler viu o crescimento da presença do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha no parlamento, em 2017. A eleiçõe de candidatos deste partido seria uma resposta para ações de Merkel em 2015, quando permitiu a entrada de milhões de migrantes, grande parte islâmicos, no país.
“[Merkel] acreditava que a unidade política alemã incluiria a presença de imigrantes, mas não foi como a sociedade recebeu”, explicou Onnig sobre a expansão da extrema-direita alemã.
Duas Alemanhas
Embora a taxa de desemprego tenha caído mais de 5% nos últimos 16 anos, Merkel não conseguiu promover uma maior igualdade entre o lado oeste e leste do país. As regiões pertencentes à antiga Alemanha Oriental — onde a chanceler morou durante a infância — permanecem fora do impulso econômico que vive o lado ocidental da nação.
Essa realidade também se reflete nos tipos de trabalho fornecidos do lado oriental e nos salários aquém do restante do país, ainda que a reunificação da Alemanha tenha ocorrido há mais de 30 anos. Condições de trabalho e até mesmo infraestrutura de telecomunicações são apontadas como discrepantes entre lado ocidental e oriental.
Durante seu mandato, Merkel precisou lidar com a crise financeira de 2008, a crise do euro, o grande fluxo de refugiados sírios e iraquianos, aquecimento global e, por último, o novo coronavírus. Ainda que haja diferenças no país, a chanceler sempre conseguiu fazer a Alemanha sair rapidamente destes percalços.
“Nos pequenos detalhes, a gente entende que o saldo para a Alemanha é positivo, apesar dessas pequenas feridas que ela não conseguiu cicatrizar”, explicou o professor da Facamp.