Medicamento autorizado pela Anvisa pode apresentar bons resultados em pacientes com Covid-19

Sotrovimabe é o quinto medicamento autorizado no Brasil para tratamento da doença, sendo o quarto em uso emergencial

A autorização temporária de uso emergencial, em caráter experimental, do medicamento Sotrovimabe para tratamento contra a Covid-19 foi recebida com cautela por especialistas. Aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 8 de setembro, o medicamento é um anticorpo monoclonal feito em laboratório que imita a capacidade do sistema imunológico de combater o coronavírus. Esse é o quinto medicamento autorizado no Brasil para tratamento da doença, sendo o quarto em uso emergencial.

Apesar de recomendado para pacientes Covid-19 com quadros leves e moderado e com risco de evolução para uma situação mais grave, o Sotrovimabe não é indicado a pessoas que precisam de suporte ventilatório. Conforme a Anvisa, o medicamento atua contra a proteína spike do Sars-CoV-2 e é projetado para bloquear a ligação do vírus e a sua entrada nas células humanas. A biotecnologia farmacêutica cria uma barreira para a seleção de variantes resistentes e permite que o medicamento mantenha a atividade in vitro contra cepas mutantes do vírus.

Para a coordenadora do Núcleo de Avaliação de Tecnologias em Saúde do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Maria Angélica Pires Ferreira, afirma que o medicamento pode apresentar melhores resultados em pacientes que não tomaram a vacina contra Covid-19. “Poderia ser benéfico em alguns pacientes, casos individuais, de alto risco, sem vacinação, mas não acredito que seja um fator importante no controle de pandemia, tem impacto muito baixo. E também tem questões de viabilidade”, avalia. Conforme a pneumologista, a necessidade do diagnóstico precoce da doença limita o uso do medicamento. No Brasil, o pedido de autorização emergencial foi protocolado em 19 de julho deste ano pela empresa GlaxoSmithKline (GSK) Brasil Ltda.

“No Brasil isso é bastante difícil, primeiro porque as pessoas não conseguem consultar no mesmo dia em que o teste fica positivo”, explica. Ela reforça que é preciso identificar fatores de risco e se o médico considera benéfico o uso do medicamento, uma vez que a substância só pode ser aplicada em hospitais. “Tem que ser um caso inicial (da doença), até o quinto dia. Se a gente olhar na nossa população, as pessoas dificilmente conseguem ser testadas antes do terceiro dia até porque começa com sintomas inespecíficos, alguma secreção e mal-estar. E geralmente o teste é feito entre o terceiro e quinto dia da doença”, observa.

Segundo Maria Angélica, o sotrovimabe pode atuar apenas contra as variantes que circulam nesse momento no país. “Não tem nada a ver dizer que esse anticorpo vai evitar surgimento de novas variantes. Não é um recurso para prevenir novas variantes”, ressalta. Ela afirma que o medicamento mostrou benefício na redução da progressão para doença grave, mas alerta que esse benefício não está comprovado em pacientes vacinados. “Será que se esse medicamento tivesse sido testado num grupo de pacientes de alto risco, como idosos, diabéticos, mas vacinados, será que mostraria o mesmo beneficio? Na Austrália foi aprovado apenas para uso em pacientes que têm no máximo uma dose de vacina”, assinala.