Pandemia acelerou transformação no setor agropecuário

Impacto provocado pela Covid-19 no agronegócio pautou primeira edição do Correio Rural Debates desta Expointer

Reportagem: Danton Júnior / CP

O cenário do setor agropecuário no pós-pandemia foi o tema do Correio Rural Debates nesta quarta-feira, transmitido ao vivo, pela Rádio Guaíba e pelas redes sociais do jornal, da Casa do Correio do Povo no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio. O encontro mediado pelo jornalista Sandro Fávero abriu o ciclo de debates desta edição da Expointer, que segue até a sexta-feira. Os participantes abordaram os desafios e avanços registrados pelo agro desde o início das restrições provocadas pela Covid-19.

O analista de Relações Internacionais da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Renan dos Santos, ressaltou que o agro não parou de produzir durante a pandemia, mas salientou que muitas cadeias produtivas se desorganizaram, ocasionando escassez de embalagens e contêineres para exportação, por exemplo – o que impactou negativamente no campo. Ao mesmo tempo, o especialista disse ver com preocupação a escalada dos custos de produção registrada recentemente. De acordo com ele, o Índice de Inflação dos Custos de Produção (IICP), medido pela Farsul, apresentou alta de 26,9% nos últimos 12 meses. Sobre o cenário pós-pandemia, ele afirmou que a retomada da Expointer em formato presencial passa uma mensagem poderosa para o setor em termos de confiança e volta à normalidade.

A gerente nacional do Programa Carne Angus, Ana Doralina Menezes, salientou que a produção de carne bovina vive um momento especial, com o Brasil consolidando-se como o maior exportador do mundo. O bom momento é sentido especialmente no segmento de carne de qualidade e se reflete nos números. No primeiro semestre deste ano, o programa registrou um aumento de 21% nas exportações. Em 2020, foram mais de 400 mil animais certificados. De acordo com ela, a pandemia acelerou um processo, que já havia sido iniciado, de inovação nas cadeias produtivas do agronegócio. Leilões, eventos, capacitações e seminários passaram a ser transmitidos virtualmente, encurtando distâncias e possibilidade alcançar um número maior de pessoas. Uma das consequências do atual momento, segundo ela, foi a substituição da carne bovina por outras proteínas na mesa do consumidor, em função dos preços. No entanto, ela disse confiar na recuperação da economia do país.

O presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag/RS), Carlos Joel da Silva, disse que a discussão comporta dois vieses. Por um lado, há a agricultura voltada à exportação, que vive momento favorável em razão dos preços das commodities. Mas quem produz para cadeias mais curtas viu mercados se fecharem durante a pandemia. Para o cenário pós-pandemia, o que mais preocupa é justamente a produção voltada ao mercado interno. Isso porque, conforme o dirigente, o poder aquisitivo da população está em queda no Brasil. Uma preocupação manifestada por Carlos Joel é a situação dos produtores de aves e suínos, que viram os custos de produção aumentarem com a disparada no preço do milho e do farelo de soja. Por outro lado, ele festejou a volta do público ao pavilhão da agricultura familiar na Expointer.

O economista da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), Tarcísio Minetto, lamentou que 10,4 mil famílias tenham deixado a atividade leiteira nos últimos dois anos, conforme divulgado pela Emater nesta quarta, fruto de um cenário de elevação de custos. Nas cooperativas, após a seca da safra 2019/2020, os ingressos foram maiores no último ciclo, o que não significa que a rentabilidade tenha crescido. Com relação ao pós-pandemia, Minetto disse concordar com o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, para quem o agro evoluiu dez anos em um. Isso porque o cenário de restrições acelerou o uso de tecnologias, o que por sua vez modificou a relação do produtor com o mercado, com cooperativas e com a assistência técnica – embora ainda haja problemas de sinal de internet na zona rural. O especialista ressaltou ainda que o agro representa 26,6% do PIB brasileiro, e que portanto merece um olhar diferenciado dos governantes.

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