Em busca de votos nas prévias, Eduardo Leite intensifica viagens pelo Brasil

Gaúcho tenta derrotar João Dória nas prévias do PSDB que decidirão candidato à presidência

Foto: Gustavo Mansur/Palácio Piratini

Em busca de votos nas prévias que o PSDB realiza em 21 de novembro para definir seu pré-candidato à presidência da República, o governador Eduardo Leite vem dividindo a agenda entre o RS, deslocamentos constantes a São Paulo e viagens a outros estados. Na semana que passou, a agenda oficial do governador registrou compromissos em solo gaúcho até o final do dia da quarta, 11.

No dia 12 ela continha apenas um registro: uma entrevista, pela manhã, à rádio Jovem Pan, mas já em São Paulo. À noite, também lá, Leite participou da segunda edição do ‘Primárias’, evento do jornal ‘O Estado de São Paulo’ e do Centro de Liderança Pública (CLP) com os chamados pré-candidatos do ‘centro-democrático’. Além do gaúcho, estavam os ex-ministros Ciro Gomes (PDT) e Luiz Henrique Mandetta (DEM). Na sexta, 13, e no sábado, 14, Leite cumpriu roteiro misto em Pernambuco.

Na semana anterior, a agenda fora do RS foi mais extensa. Começou na quarta, 4, quando o governador esteve em Brasília para reunião no ministério da Infraestrutura. Na sequência, ele manteve dois compromissos oficiais em São Paulo: reuniões na Microsoft, na quinta, 5; e na BRF, na sexta, 6. Fora da agenda, ainda na sexta, se encontrou com Geraldo Alckmin.

O ex-governador paulista vinha travando uma batalha com o principal adversário de Leite nas prévias, o atual governador de São Paulo, João Dória, pelo domínio do partido no estado que é referência do PSDB. Mas, na semana passada, poucos dias após o encontro com o gaúcho, Alckmin admitiu que está de saída da sigla, o que é apontado entre tucanos como ponto para Dória. O destino mais provável de Alckmin é o PSD de Gilberto Kassab. Leite, por sua vez, depois de São Paulo, no final de semana foi a Goiás, em roteiro de pré-candidato.

A alternância das agendas do governador vem se intensificando pelo menos desde o início de julho. No primeiro final de semana daquele mês ele já havia cumprido compromissos duplos (como governador e pré-candidato tucano) em Santa Catarina. Na metade de julho (17 e 18) foi à Bahia e a Alagoas. Ainda para agosto, já tem programadas atividades de pré-candidato das prévias no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul.

Pai da vacina X Liberal na economia e nos costumes

Enquanto o governador Eduardo Leite foi ao Nordeste, o governador de São Paulo, João Dória, fez, no final de semana, uma ofensiva em ‘território sulista’. Onde, em tese, a inclinação seria por Leite. Dória cumpriu roteiro no Paraná e em Santa Catarina; postou nas redes fotos com o governador paranaense, Ratinho Júnior (PSD), e o prefeito de Curitiba, Rafael Greca (DEM); e saiu da viagem com o apoio da bancada estadual do PSDB do Paraná para as prévias.

Na corrida interna tucana, Leite conseguiu obter a almejada visibilidade nacional que era um dos empecilhos apontados para sua pretensão de vencer a prévia após anunciar publicamente que é homossexual. Mas Dória, que na campanha investe forte no papel que desempenhou para garantir a vacinação contra a Covid-19 no país, e incorporou os termos ‘pai da vacina’ e ‘João vacinador’, vem dando sucessivas demonstrações de força.

Na quarta, 11, dois dias após Alckmin admitir que sairá do partido, Dória reuniu, em um jantar em Brasília, 14 deputados federais (os sete paulistas, o presidente nacional, Bruno Araújo, deputado por Pernambuco, um parlamentar de MG, um do RJ, um do PR, um do CE, um do MS e um do PA) e dois senadores (SP e DF) do PSDB. O partido tem 32 deputados federais e sete senadores.

O jantar ocorreu um dia depois da votação, pelo plenário da Câmara, da PEC do voto impresso, que foi rejeitada. O PSDB orientou que a bancada votasse pelo não, mas os tucanos se dividiram: 14 votaram sim, 12 não, cinco não votaram e um (Aécio Neves) se absteve. A diferença, internamente, foi de comparação em termos de liderança.

Dos sete federais do PSDB de São Paulo, seis votaram não e uma não votou, mostrando alinhamento com o discurso de Dória pela rejeição da PEC. Leite, depois do resultado, fez uma publicação no twitter: “De manhã desfilaram os tanques. De noite desfilou a democracia.” Mas os dois federais do PSDB gaúcho haviam votado sim.

Não foi o único embaraço ao governador gaúcho nas últimas semanas. Em 31 de julho, na reabertura do Museu da Língua Brasileira, em São Paulo, ao lado de Dória e na companhia do ex-presidente Michel Temer (MDB), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse que Dória é candidato à presidência e tem seu voto.

O vídeo teve grande repercussão. Um mês antes, no final de junho, em entrevista ao programa Canal Livre, da Bandeirantes, FHC, ao tratar da força de governadores na disputa presidencial, apontou os dois representantes do PSDB. Mas, enquanto chamou Dória pelo nome, a Leite se referiu como “o governador do Rio Grande do Sul, eu conheço um pouco.”

No RS, aliados do tucano consideraram que as duas manifestações esvaziaram a narrativa de que Fernando Henrique seria um dos principais fiadores da pré-candidatura do gaúcho nas prévias. Parte destes aliados já trabalha com a possibilidade de que o governador, apesar das negativas, possa concorrer à reeleição em caso de derrota nas prévias.

Como, a exemplo de 2018, o PSDB se fortaleceria em uma aliança com um partido bem estruturado nos municípios, o maior número de apostas recai hoje sobre o MDB. Para tanto, contudo, apontam parlamentares emedebistas, o partido exigiria tanto a vaga do Senado como a de vice na chapa. E, antes, precisaria vencer várias resistências internas. De público, os dirigentes e lideranças do MDB seguem garantindo que terão candidatura própria ao governo em 2022.