Especialistas discutem possibilidade de terceira onda da Covid no RS

Chegada da variante Delta deixa autoridades em alerta, apesar do avanço da vacinação

Foto: Mauro Schaefer/CP

O Brasil superou, nesse fim de semana, a marca de 50% da população vacinada com a primeira dose contra a Covid-19. No Rio Grande do Sul, o governo antecipou a previsão de imunizar toda a população adulta, com a dose 1, para o fim de agosto. Ainda assim, a chegada da variante Delta do coronavírus e o surtos recentes nos hospitais Nossa Senhora da Conceição e Vila Nova, em Porto Alegre, trazem preocupação com uma eventual terceira onda da doença, ainda neste ano.

A diretora em exercício da Vigilância em Saúde de Porto Alegre, Fernanda Fernandes, admite que a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) está atenta, mas lembra que agosto de 2021 começou com média inferior a 100 casos novos diários de Covid na cidade, o que não acontecia desde o ano passado. “Temos, também, uma redução de internações em enfermarias Covid. Mas seguimos observando essa situação, com o avanço da vacinação. É um cenário favorável para conter o avanço da pandemia. Apesar da variante Delta, a tendência é de queda com estabilidade”, explicou.

Já o chefe do Serviço de Infectologia do Hospital Moinhos de Vento, Alexandre Zavascki, avalia que a chegada de uma terceira onda da pandemia é possível. “Basta olharmos em outros locais do mundo. Em alguns países, o percentual de vacinação é superior ao que temos aqui no Brasil”, compara. A expectativa do médico, no entanto, é de que, mesmo com o eventual aumento expressivo de casos configurando uma terceira onda, em função da variante Delta, eles não evoluam para quadros graves, justamente em virtude da vacinação. “Nos outros países com a Delta, a imensa maioria de casos graves ocorre em não vacinados. E temos uma proporção razoável de vacinados. Como a Delta pode infectar vacinados, pode haver um amento de casos, mas sem a proporção de internações da outra onda”, analisa.

Zavascki também identifica uma postura de descuido em muitas pessoas, mesmo que a pandemia ainda não tenha terminado. “Se você ficar todo dia se expondo, acaba desafiando sua imunidade, pois a proteção está relacionada ao nível de exposição. Dependendo da situação, a imunidade conquistada não consegue bloquear uma grande quantidade de vírus”, alerta o infectologista, ressaltando que a variante Delta pode superar a variante Gama, identificada primeiramente em Manaus no fim do ano passado. “Esperamos que haja menos hospitalizações, mas não podemos bater o martelo sobre isso porque não temos uma proteção vacinal tão ampla”, adverte.

Já o infectologista José David Urbáez, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), é mais taxativo quanto a falta de precaução das pessoas que se expõem mais do que o indicado. “No Brasil, conseguiu-se normalizar uma hecatombe sanitária sem precedentes e as pessoas vivem, na maioria dos casos, como se não houvesse uma pandemia. Por isso, as previsões são de que esta terceira recrudescência seja muito intensa porque saímos de um degrau muito alto e de uma circulação viral muito intensa, que vai se intensificar ainda mais”, explicou.