Randolfe aponta carta em que Amilton atualiza oferta de vacina por US$ 11 a dose

Senador apresentou as duas propostas à CPI, e reverendo negou conhecer o primeiro documento, que oferecia a vacina a US$ 10

Foto: Pedro França / Agência Senado

Durante depoimento do reverendo Amilton Gomes de Paula na CPI da Covid, o vice-presidente do colegiado, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), confrontou o pastor com o preço da vacina oferecida pela Davati Medial Supply ao Ministério da Saúde. Segundo Randolfe, a Davati apresentou um documento à Pasta no dia 15 de março oferecendo vacinas a US$ 10, preço atualizado mais tarde pelo reverendo, por carta endereçada ao então secretário executivo do ministério da Saúde, Elcio Franco, mudando o preço para US$ 11.

O líder religioso chegou à CPI após ser citado como um intermediador entre o governo federal e empresas que ofereciam vacinas sem comprovar a entrega dos imunizantes. O caso é investigado pela CPI após a denúncia de um pedido de propina de US$ 1 por dose. Pedido esse supostamente envolvendo o então chefe do departamento de logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias.

Randolfe apresentou as duas propostas à CPI, e Amilton negou conhecer o primeiro documento, que oferecia a vacina a US$ 10. “Eu não encaminhei esse documento de US$ 10, eu tenho a oferta de U$S 11”, disse. Para Randolfe, o aumento do preço da vacina, e a denúncia de pedido de propina de US$ 1 “não parece coincidência”.

O vice-presidente da CPI continuou, após questionar se o reverendo conhecia Roberto Dias, o que no começo da oitiva o líder religioso negou. O parlamentar leu uma mensagem que Amilton enviou ao cabo da Polícia Militar Luiz Paulo Dominghetti, que se apresentou como representante da Davati no Brasil, sobre estar em uma sala com Roberto Dias. O reverendo mudou o discurso afirmando não se lembrar do encontro.

Durante a oitiva, também foram questionadas as credenciais da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), que pertence ao reverendo. Randolfe questionou o fato de ele ter assinado uma carta afirmando que a instituição era reconhecida pela Organização das Nações (ONU) e pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), mesmo que isso não seja verdade.

O vice-presidente da CPI também apontou que Amilton é inscrito na dívida ativa da União com débito de R$ 29,5 mil. Amilton declarou ter sido um débito antigo. O senador, contudo, afirmou que, com o débito, o Ministério da Saúde não tinha como seguir com as negociações do reverendo.

O pastor também afirmou não haver nenhum contrato da Senah com a Davati. Amilton reclamou que recebia pressão de Cristiano Carvalho e de Dominghetti, ambos representantes da Davati, para levar adiante as tratativas com o governo para a venda de vacinas. “Conversar com presidente, Ministério, com quem for para dar prosseguimento ao pedido dos dois”, disse.

De acordo com o líder religioso, ele era uma das pessoas que pedia documentação da Davati para enviar ao Ministério da Saúde, e reclamou que os documentos não chegaram a ele. “Por eu ter colocado meu nome nessa operação fiquei um pouco preocupado”, disse.

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