Os passageiros que dependem das linhas intermunicipais de ônibus entre Canoas e Porto Alegre foram pegos de surpresa, nesta quinta-feira (8), com a ausência dos coletivos da Vicasa – empresa que, tradicionalmente, atua no trajeto. Isso porque a paralisação dos funcionários da companhia, que estão há dois meses sem receber salários e benefícios, fez com que nenhum veículo saísse da garagem.
A grave crise financeira enfrentada pela Vicasa foi debatida em uma reunião virtual da Justiça do Trabalho poucas horas antes do início da greve. Entretanto, segundo o diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Rodoviários Intermunicipais, de Turismo e de Fretamento da Região Metropolitana (Sindimetropolitano), Alex Pereira, os representantes da empresa deixaram claro que a situação é irreversível.
“A Vicasa pediu que os servidores trabalhassem por mais 15 dias, para fazer uma transição para outra empresa, sem dar nem uma proposta de pagamento, nenhuma data. A empresa está praticamente fechando as portas. Só em salários, a dívida chega a R$ 634 mil – e na audiência com a Justiça, ficou claro que o valor não vai ser pago. Agora, vamos atrás dos nossos direitos”, garante.
A Transcal, empresa que tem sede em Cachoeirinha, já assumiu parte das linhas de forma provisória. Em nota enviada à imprensa, a Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan) confirmou que a concessionária substituirá a Vicasa, em definitivo, a partir da próxima segunda-feira (12) – data em que a tabela horária dos ônibus intermunicipais deve ser normalizada.
Crise
O transporte coletivo de Canoas, que está em crise desde meados de 2014, teve a sua situação agravada com a chegada da pandemia de Covid-19 ao Rio Grande do Sul. A queda no volume de passageiros e as restrições impostas à ocupação dos veículos, como medida sanitária, são vistas como agravantes ao problema que começou na popularização dos aplicativos de transporte individual.
No ano passado, a Sogal teve de ser socorrida pela prefeitura da cidade – que comprou passagens antecipadas da empresa para que os salários dos funcionários fossem colocados em dia. Os tíquetes, repassados às famílias mais pobres, garantiram a volta dos ônibus nas ruas. No entanto, o secretário de Transportes do município, Francisco Nunes, admite que a solução não virá do dia para a noite.
“Aqui tu tem que tomar decisões que, muitas vezes, são indigestas. Estamos fazendo o possível para manter a operação de pé. Esse é o nosso desafio, né? Agora, por exemplo, a Vicasa encerrou as suas atividades. Às vezes as pessoas pedem que [a prefeitura] encerre o contrato com determinadas empresas, mas essas companhias têm cem funcionários, com famílias. Como eles vão receber isso?”, pondera.
A reportagem da Rádio Guaíba buscou contato com a direção da Vicasa. Porém, até a publicação desta reportagem, não houve resposta por parte dos representantes da empresa.
Confira a íntegra da nota da Metroplan
“Com o anúncio de greve para essa quinta-feira, 08/07, por parte dos trabalhadores da empresa Vicasa de Canoas, a Metroplan comunica que parte da tabela horária, de responsabilidade da empresa no lado oeste de Canoas, será atendida pelo Rápido (Transcal).
A empresa de Cachoeirinha, que desde maio atende o lado leste da cidade com o Rápido, um serviço, até então, bem avaliado pelos passageiros, deve assumir a operação de todas as linhas metropolitanas na cidade a partir de segunda-feira, em substituição à Vicasa.
A reunião da Vicasa e sindicato dos trabalhadores, realizada nesta quarta-feira, na Justiça do Trabalho, terminou sem acordo. A mediação foi acompanhada pela Metroplan, órgão gestor do sistema Estadual de Transporte Metropolitano.”