Em evento em Brasília, nesta terça-feira, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luis Roberto Barroso, voltou a argumentar contra a implementação do voto impresso no País, tema que virou bandeira do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). No Simpósio Interdisciplinar sobre o Sistema Político Brasileiro & XI Jornada de Pesquisa e Extensão da Câmara dos Deputados, Barroso voltou a se mostrar contra a impressão do voto argumentando que a logística envolvendo o transporte dos votos abre no país a possibilidade do “roubo de carga”.
O ministro também citou o risco de judicialização devido a possíveis divergências em uma recontagem. Para Barroso, o voto impresso não é mecanismo a mais de auditoria, “ele é um risco para o processo eleitoral”. “Qual a razão pela qual o TSE tem se empenhado contrariamente ao voto impresso? É que nós vamos ter que transportar 150 milhões de votos no País do roubo de carga, da milícia, do Comando Vermelho, do PCC, do Amigos do Norte, já há aí um primeiro problema”, argumentou. As informações foram publicadas pelo jornal O Estado de S.Paulo.
Na fala, Barroso ainda reforçou que o sistema com voto impresso só presta para recontagem manual, o que, segundo ele, é um “terror” para o país. “Se o candidato a presidente da República pedir recontagem, nós vamos ter 150 milhões de votos contados manualmente, aquelas mesas apuradoras que faziam o terror da vida brasileira antes das urnas eletrônicas”, disse.
Para o ministro, a única forma de implementar o sistema é através de mecanismo de contagem automática, coisa que, segundo ele, já não é mais possível fazer a tempo para a próxima eleição. E mesmo com esse sistema, Barroso entende ser um paradoxo implementar o passo extra de verificação.
“O voto impresso seria imprimido pela mesma urna que estaria sob suspeita, portanto, se fraudar o eletrônico, frauda o impresso. Vamos gastar R$ 2 bilhões de reais, criamos um inferno administrativo para essa licitação, com o risco de fraude, e pior, quebra de sigilo”, afirmou.
O presidente do TSE também apontou como um dos riscos da implementação do sistema a judicialização das eleições. “A contagem manual vai dar diferença em relação à contagem eletrônica. Até caixa de banco ou caixa de empresa no final do dia você tem que fazer uma reconciliação, e aí vão pedir anulação de urna para dizer que deu defasagem, deu desencontro, nesse País em que se judicializa tudo, vai se judicializar também a eleição”, concluiu o ministro.
Em meio aos escândalos do governo envolvendo a compra de vacinas, o presidente Bolsonaro, de olho nas eleições de 2022, vem colocando em xeque a segurança do sistema eletrônico. Para o chefe do Executivo, há uma suposta articulação dentro do STF para colocar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de volta ao poder por meio de fraude.
Sem apresentar provas, Bolsonaro reafirma a suposta insegurança do processo eleitoral em declarações a apoiadores. Em uma das conversas com eleitores, na saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro chegou a sugerir que vai fazer uma live com hackers, demonstrando as possíveis fragilidades do sistema.
Barroso também argumentou contra a possibilidade de um hacker prejudicar o sistema eleitoral. “As urnas não entram em rede”, afirmou o ministro. “As pessoas dizem: ‘mas atacam a Nasa, atacam o FBI, atacam o Pentágono, porque não vão atacar o TSE?’. Até atacam, mas mesmo que ataquem o TSE, mesmo que derrubem o sistema do TSE – o que nunca aconteceu – as urnas não entram em rede, e, portanto, não há como fraudar o resultado eleitoral”, pontuou.
* Com informações da Agência Estado