Pandemia derruba renda média do trabalhador brasileiro a R$ 995

Remuneração média recebida pelos profissionais caiu 11,3% e figura 9,5% abaixo do salário mínimo, indica estudo da FGV Social

Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A renda média recebida pelos trabalhadores no Brasil foi fortemente impactada pela pandemia do novo coronavírus, desabou 11,3% em um ano e agora figura em R$ 995, menor valor da série história da FGV Social, iniciada em 2012.

O dado, divulgado pela pesquisa Bem-Estar Trabalhista, Felicidade e Pandemia, aponta que a remuneração média recebida no Brasil nos primeiros três meses de 2021 figura quase 10% (R$ 105) abaixo do salário mínimo de R$ 1.100 pago neste ano aos profissionais.

“O Brasil começou 2020 com o maior nível da série, R$ 1.122, e, durante a pandemia, partimos para o menor nível, o que denota o grau de força dessa recessão”, analisa Marcelo Neri, coordenador do estudo.

Enquanto a média das rendas individuais do trabalho na população caiu 10,89% ao longo da pandemia, a queda de renda da metade mais pobre dos brasileiros foi quase duas vezes maior, de 20.81%.

Com as movimentações, o estudo mostra que a pandemia elevou o índice de Gini trabalhista a 0.674 no primeiro trimestre de 2021, o que representa um “grande salto de desigualdade” no mercado de trabalho.

Desenvolvido pelo matemático italiano Conrado Gini, o índice mede distribuição, concentração e desigualdade econômica em determinado grupo. O indicador varia de 0 (perfeita igualdade) a 1 (máxima concentração e desigualdade).

Como consequência da piora do mercado de trabalho, o estudo da FGV Social mostra que o bem-estar também caiu no território nacional. De acordo com Neri, o ganho de renda não resultou no aumento da felicidade nos anos que antecederam a pandemia, que derrubou o índice em quase 20%.

O coordenador explica que o estudo, desenvolvido a partir da percepção da satisfação presente com a vida, colocou o Brasil com a terceira maior queda de felicidade entre quase 140 países de 2014 a 2018.

“Na pandemia, tivemos uma regressão pela metade e anota do Brasil é 6,1. Era 6,5 antes da pandemia e, de 7,2 em 2014”, lamenta Neri, que completa: “Podemos dizer que a perda de postos de trabalho gerou essa perda de bem-estar objetivo, que anda junto com as medidas de felicidade.”

Conforme o levantamento, a queda da felicidade se dá nos 40% mais pobres (-0,8%) e no grupo do meio (-0.2) situados entre 40% a 60% da renda. Já os grupos mais ricos mantiveram a satisfação com a vida. “A diferença de satisfação com a vida entre os extremos de renda, que era de 7,9% em 2019, subiu para 25,5%”, destaca o estudo.