Hospital Moinhos de Vento seleciona voluntários para teste de vacina contra Covid-19

Novo imunizante conta com características importantes, além de tecnologia moderna

Especialista destaca que imunizante conta com características importantes, além de tecnologia moderna. Foto: Mauro Schaefer/CP Memória

Mais uma vacina contra a Covid-19 entrará na terceira fase de testes em diversos lugares do mundo, inclusive no Brasil e especificamente no Rio Grande do Sul, onde o Instituto de Pesquisa do Hospital Moinhos de Vento selecionará 500 voluntários para testar o imunizante. O ensaio clínico foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) no dia 8 de abril. As fases 1 e 2 do estudo foram realizadas simultaneamente no Canadá e nos Estados Unidos.

O desenvolvimento clínico está sendo patrocinado pela empresa biofarmacêutica Medicago R&D Inc, sediada no Canadá, e pela empresa farmacêutica britânica GlaxoSmithKline (GSK), sediada em Londres, Reino Unido, que é responsável pelo desenvolvimento do adjuvante da vacina. No mundo, serão recrutados 30 mil participantes na Europa, na América Latina, além de Estados Unidos e Canadá. No Brasil, serão 3,5 mil voluntários.

Para participar do estudo, as pessoas devem ter 18 anos ou mais e atender a uma série de requisitos. Os interessados em participar da pesquisa no Moinhos de Vento devem residir em Porto Alegre ou em cidades da Região Metropolitana, ter disponibilidade para comparecer às consultas que serão agendadas, preencher diários eletrônicos sobre sintomas em um aplicativo específico pelo celular, coletar amostras de sangue e atender às ligações e mensagens que serão enviadas pela equipe.

A vacina em teste é desenvolvida com partículas que são semelhantes ao vírus Sars-CoV-2 (novo coronavírus), chamadas de VLPs (do inglês, viral-like particles). Porém, elas não contêm material genético viral, portanto não são infecciosas. Essas VLPs foram inseridas na planta Nicotiana benthamiana, utilizada para produzir a vacina. O estudo vai avaliar se essa semelhança é suficiente para fazer o organismo produzir anticorpos capazes de prevenir a Covid-19.

A biomédica e doutora em neurociências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Mellanie Fontes-Dutra, que atua como divulgadora científica pela Rede Análise COVID-19 e faz parte dos gruposHalo da ONU, grupo InfoVid, Todos Pelas Vacinas e União Pró-Vacina, explica que a vacina utiliza a tecnologia de proteínas, que vão se arranjar numa estrutura chamada viral-like particles ou VLP, como se vestissem um disfarce do vírus para o sistema imune montar uma resposta robusta contra essas partículas, mas que não são o vírus.

“As fases clínicas são essenciais para observarmos a segurança, o tipo de resposta imunológica desencadeada e se a vacina é capaz de proteger uma população vacinada, comparada a uma não vacinada”, reitera Mellanie. Segundo ela, a fase 1 indicou um bom perfil de segurança e trouxe dados preliminares indicando uma resposta imunológica desencadeada.

“Sem dúvida a contribuição e participação em ensaios clínicos é algo relevante para o desenvolvimento científico e a contribuição do Rio Grande do Sul e de outros estados somarão nesse esforço de estudarmos novos imunizantes para a população brasileira e mundial”, pontua. Além disso, com relação às principais diferenças dessa vacina com relação às outras já testadas no Brasil, Mellanie destaca que esse imunizante específico tem uma escalabilidade importante, além de ser uma tecnologia moderna.

Conforme a própria Medicago, o desenvolvimento de vacinas derivadas de plantas, que é o caso do imunizante em questão, é diferente das demais porque usa plantas vivas como biorreatores para produzir uma partícula não infecciosa que imita o vírus-alvo, sem o uso de nenhum vírus vivo. A vacina é desenvolvida para ser administrada em duas doses, com intervalo de 21 dias entre a primeira e a segunda aplicação.

O cadastramento dos interessados não garante a inclusão no estudo, que só será efetivada no dia da primeira consulta, quando todos os critérios de elegibilidade estiverem revisados pela equipe de pesquisa. Os voluntários serão sorteados por um sistema informatizado para tomar a vacina ou placebo e, se constatada a eficácia, todos receberão a vacina imediatamente. Mais informações sobre o estudo e as inscrições podem ser consultadas no site www.participevacinacovid19.com.

Requisitos para participar

– Ter 18 anos ou mais
– Não ter recebido vacina para Covid-19
– Não ter apresentado doença aguda ou febre 2 dias antes de receber a vacina
– Não ter diagnóstico prévio de Covid-19 (por swab nasal)
– Podem ser portadores de condições clínicas que aumentam risco de Covid-19, mas que não foram cobertos pelo Programa de Vacinação do SUS, como, por exemplo, tabagismo, obesidade leve, alcoolismo e doença psiquiátrica.
– Se mulher em idade fértil, não deve estar grávida ou amamentando, e deve estar utilizando método anticoncepcional e manter até um mês após a segunda dose da vacina – será também necessário realizar teste em urina para gravidez durante a consulta antes de cada vacinação;
– Não ter alterações na pele nos dois braços (ex: tatuagem muito fechada ou extensa) que interfira na avaliação da vacina;
– Não ter alergia grave aos componentes da vacina – vacinas GSK com componente AS03 (utilizado para vacina H1N1);
– Não ter histórico de alergia grave com plantas (incluindo tabaco, frutas e castanhas);
– Não ter histórico próprio ou familiar de Narcolepsia, ou próprio de Síndrome de Guillain-Barré;
– Não ser familiar de primeiro grau [esposo(a)/pai/mãe/filho(a)] de alguém envolvido no estudo.