O brasileiro vai consumir em 2021 a menor quantidade de carne vermelha por pessoa em 25 anos, estima a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Segundo o órgão, o cenário de crise recente – com a recessão de 2014 a 2016, a lenta recuperação de 2017 a 2019 e a nova crise causada pela Covid-19 desde o ano passado – vem derrubando o consumo total de carnes (bovina, suína e de frango).
A partir de 2013, quando o consumo atingiu 96,7 quilos por pessoa por ano, auge na série histórica iniciada em 1996, houve seis anos seguidos de queda. Neste ano, o consumo total deve ficar 5,3% abaixo do pico. De acordo com o jornal O Estado de S.Paulo, o menor consumo guarda relação direta com o preço.
O aumento da produção dos frigoríficos destinada às exportações, em um cenário de cotações internacionais já elevadas, encarece as carnes também no mercado do doméstico. A inflação do produto chega a 35,7% no acumulado em 12 meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Apesar da queda no consumo, o diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Sergio De Zen, disse que o consumo geral do brasileiro se mantém em nível semelhante ao de vários países, alguns deles os mais desenvolvidos do mundo.
Conforme um levantamento da Conab, a demanda anual de carnes na União Europeia é de 89,3 quilos por habitante, média dos últimos cinco anos. Na Austrália, ficou em 101,2 quilos; nos Estados Unidos, em 116,8 quilos. “O Brasil está comendo menos carne bovina, reduziu bastante, só que aumentou o consumo de frango e (na carne) suínos. O consumo global caiu muito pouco”, afirmou De Zen.
Com a renda menor, as famílias passaram a comprar menos carnes em geral e a substituir as mais caras – em geral, a bovina – pelas mais baratas – como a de frango. A queda no consumo de cortes bovinos passa por um rearranjo na participação dos diferentes tipos de proteína na cesta de compras do brasileiro.
Exportações
O menor consumo interno ainda pode ser atribuído à forte demanda externa, principalmente da China. A alta nos pedidos chineses decorre de uma doença – não a Covid-19, mas a peste suína africana (PSA), que assola os rebanhos do país asiático e das nações vizinhas desde 2018.
O impacto da PSA nos rebanhos suínos da China é forte, segundo José Carlos Hausknecht, diretor da consultoria MB Agro. No fim de 2019, a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) estimou m 7,7 milhões o número de animais abatidos em países asiáticos por causa da doença, transmitida entre javalis e porcos, mas inofensiva ao ser humano.
Nos dados internacionais compilados pela Conab, o consumo anual total de carnes na China ficou em 51,1 quilos por habitante, na média dos últimos cinco anos, o que sinaliza que a demanda por exportações para o gigante asiático tende a se manter, à medida que o rendimento das famílias chinesas siga a trajetória de alta.
Na China, a carne de porco é a mais consumida. O país é o maior produtor global, mas a demanda da população de 1,3 bilhão de habitantes exige importações. O tombo na produção em 2018 e 2019 levou os chineses a ampliarem as compras no exterior de todos os tipos de carne, não só suína, mas também bovina e de aves. Foi o motor das exportações brasileiras de bovinos – que saíram de 1,479 milhão de toneladas e US$ 6,032 bilhões, em 2017, para 2,013 milhões de toneladas e US$ 8,506 bilhões, em 2020, segundo a Abiec, associação dos exportadores.