Os desligamentos de funcionários do emprego formal por morte foram recorde em abril com 11.699 casos, segundo um estudo da Kairós Desenvolvimento Social a partir das informações do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). O levantamento indica o maior número de registros mensais desde 2004, início da série histórica, e um aumento de 166% em relação à média mensal de 2019, ano anterior ao início da pandemia.
O recorde acompanha o avanço do novo coronavírus no país e o aumento de infectados e óbitos com a segunda onda da doença. Em abril, o número de óbitos também foi recorde com 82 mil casos, superando a marca anterior, de março, quando 66 mil pessoas perderam a vida em razão do vírus.
“Esse recorde de mortes no trabalho formal é apenas a ponta do iceberg da situação dos trabalhadores brasileiros, principalmente os menos qualificados, que precisam sair de casa para trabalhar, pegar transporte público, manter contato com clientes. Se somarmos os trabalhadores sem registro, informais e por conta, os números serão muito mais assustadores”, afirma Elvis Cesar Bonassa, diretor da Kairós e coordenador do estudo.
Nos quatro primeiros meses de 2021 houve 35.125 casos de desligamento do trabalho formal por morte. Esse total, relativo a apenas quatro meses, equivale a 66,56% dos desligamentos por mortes registrados em todo o ano de 2019 e 55,16% dos de 2020.
O crescimento dos casos começou em abril de 2020, coincidindo com o início dos efeitos da pandemia. Naquele mês, o número de mortes ultrapassou pela primeira vez, na série histórica, a barreira de 5 mil casos, mantendo certa estabilidade até a explosão dos dois últimos meses.
Função
A elevação do número de mortes de trabalhadores em março e abril se concentra em atividades que exigem contato pessoal e deslocamento dos profissionais, majoritariamente em atividades de baixa qualificação e remuneração. Apenas dez atividades concentram praticamente um terço (32,73%) de todos os desligamentos por morte. A atividade mais crítica é a de motorista de caminhão de rotas regionais e internacionais, com 1.449 óbitos em março/abril. Os professores estão em nono lugar, com 486 mortes no período.
Para o coordenador do estudo, “a falta de políticas sanitárias consequentes, o vai e vem errático das restrições e a falta de apoio financeiro à população mais pobre está gerando uma tragédia que se aprofundou muito nos dois últimos meses”.