Prefeitura de Saudades (SC) planeja apoio às famílias após tragédia

Autoridades da cidade, do estado e até do governo federal se reuniram nesta quarta-feira (5) para discutir ações de acolhimento

Foto: Imprensa do Povo / ND / Portal R7 / Divulgação

A Prefeitura de Saudades, no oeste de Santa Catarina, planeja iniciar nesta quinta-feira (6) as ações para oferecer assistência psicológica aos familiares das vítimas do ataque à Escola Infantil e Berçário Pró-Infância Aquarela, ocorrido na última terça-feira (4). No ataque, praticado por um homem de 18 anos, morreram três crianças com idades inferior a 2 anos e duas professoras. Outro bebê sobreviveu e segue hospitalizado.

Integrantes de todas as secretarias da administração municipal estiveram reunidos na quarta (5) para discutir o tema. Participaram das discussões representantes do Conselho Tutelar, da Assistência Social, Saúde, governo do estado, Ministério Público e ainda do Ministério Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

“Vai ser feito um atendimento aos familiares com equipe médica e psicólogos. Em seguida, os próprios professores da creche. Temos muita ação [pela frente] ainda porque hoje [terça, 5] foi um dia triste por conta de todo o velório. Todo mundo [estava] exausto, quase sem dormir”, antecipou o titular da pasta da Administração da cidade, Márcio Hart.

O secretário disse que o momento ainda é de luto profundo pelos mortos em razão da proximidade entre os moradores do município de apenas 10 mil habitantes. “Todo mundo se conhece, tem toda essa afeição… A comoção é total. Ninguém fala nada. Você vai nas praças, é todo mundo na própria cápsula, tentando digerir o que aconteceu… A situação [foi] completamente inesperada e o que causa mais comoção, porque faz anos sem um único caso de roubo na cidade.”

Márcio Hart revelou que a cidade recebeu ofertas de apoio das equipes de psicólogos por parte da governadora em exercício, Daniela Reinehr (sem partido), e profissionais de São Paulo. “Uma universidade próxima se colocou à disposição. [Foram oferecidos] psicólogos que atuaram em Brumadinho, na Boate Kiss. A governadora [em exercício, Daniela Reinehr] colocou a equipe do estado [à disposição]. Em torno de 20 profissionais. Não se sabe ainda se [o atendimento] vai ser virtual ou presencial”, completou.

O gestor público acrescentou que as primeiras medidas serão voltadas ao acompanhamento de familiares das vítimas, dos professores da creche e também dos pais do autor do crime. “Família do bem, muito querida na cidade. O pai está bem desolado. Não aceita e não acredita no que aconteceu”. Segundo ele, a ação do criminoso foi surpreendente. “Um rapaz trabalhador. Trabalhava em uma grande corporação aqui. Era introspectivo, meio caladão… Era um rapaz quieto e isso que é maior espanto. Nenhuma passagem policial. A cidade está toda em choque”, afirmou Hart.

A psicóloga e coordenadora do Laboratório de Estudos sobre o Luto da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Maria Helena Pereira Franco concorda que será preciso incluir no atendimento os familiares do acusado. “É morador da cidade. A família dele precisa ser protegida também”.

Ela avalia ainda que o trabalho de recuperação dos envolvidos poderá ser lento. “Acho que tem essa coisa inesperada, violenta. São eventos que acontecem rapidamente, mas que têm uma longa duração. O menino entrou lá, fez o que fez. Mas quanto tempo vai ser esse depois? Um depois trabalhoso”, frisou.

Atendimento terapêutico e medicamentos

O psicólogo especializado em crises e emergências Alexandre Garrett estima que a recuperação dos familiares das vítimas necessite de, no mínimo, dez sessões de terapia 50 minutos cada e em grupo. Porém, o psicólogo ressalta que, em muitos casos, poderia ser realizado um atendimento individual a alguém que demonstre mais dificuldade em assimilar a perda e também para que o sofrimento não se transforme em outras doenças. O uso de medicação no tratamento não é descartado pelo psicólogo.

“O luto, às vezes, pode demorar uma vida inteira. Se você perdeu um bebê, um filho, uma filha, é uma situação muito delicada e que exige que o terapeuta seja muito perspicaz no atendimento de cada pessoa. O importante é acolher, porque o sofrimento é muito grande… Podem vir alguns transtornos depois do trauma. A gente precisa controlar bastante isso. O psicólogo [precisa] ter um espaço caso haja necessidade do envolvimento de um psiquiatra para que se dê uma medicação para acalmar essas pessoas por um período na fase da grande crise. Depois, [que] a terapia seja retomada com essas pessoas até que elas se sintam mais confortáveis para aceitar um fato tão trágico”, explicou.

Alexandre Garret aconselha que as famílias de Saudades envolvidas na tragédia sejam ouvidas e que haja o ato terapêutico, isto é, o acolhimento dessas pessoas, “para que chorem, contem a sua tristeza, e que haja o compartilhamento da dor. Segundo o especialista, “é realmente uma situação muito dolorosa e, quanto mais essas pessoas puderem conversar a respeito, melhor será.”

O profissional entende que não adianta se procurar por culpados pela tragédia neste momento, inclusive pelo fato de o agressor aparentar ter transtornos mentais. “O fato já foi consumado. Essas famílias precisam ser acolhidas. Precisa-se que cada uma delas possa falar um pouco sobre a dor que está sentindo. É uma dor muito grande. É um vazio enorme”, finalizou.