Em depoimento, Teich relata que não tinha autonomia ou liderança à frente de ministério

Ex-chefe da Saúde defende que Brasil compre imunizantes ainda em testes

Teich comentou ainda que a estratégia do país foi errada ao defender remédios como a cloroquina. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

O ex-ministro da Saúde e médico oncologista Nelson Teich voltou a dizer que não tinha autonomia ou liderança à frente da pasta, a qual sofria ingerência e entraves do presidente Jair Bolsonaro. A afirmação ocorreu, nesta quarta-feira, durante depoimento de quase sete horas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, no Senado.

Ao ser questionado pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES) sobre visões diferentes de médicos em relação a “tratamento precoce”, ele disse que não há comprovação científica no uso de medicamentos como prevenção à Covid-19.

Diante da escassez de vacinas, Teich defendeu que o país se planeje para comprar imunizantes ainda em teste. Segundo ele, algumas das 26 vacinas em “fase 3″ podem ser as melhores opções no futuro.

Teich contou que teve quatro reuniões com o presidente Jair Bolsonaro ao longo do período de quase um mês em que esteve à frente do ministério. Ele disse que não discutiu o programa de testagens com o presidente nem uma estratégia de comunicação do governo federal.

Segundo o ex-ministro, a ampliação do uso de máscaras e a atenção às medidas de isolamento social, na época em que esteve comandando a Saúde, eram capazes de garantir maior eficiência do sistema de saúde pública, com a diminuição da letalidade da doença.

“Quando eu falei que não tinha autonomia, eu não tinha autonomia nem liderança. Em situações como a Covid, quando se tem uma situação (para o país todo), precisa-se de liderança e coordenação”, disse.

Em resposta à senadora Leila Barros (PSB-DF), Nelson Teich disse que a busca por “imunidade de rebanho” fracassou em todos os lugares, ainda no início da pandemia. “Imunidade vem da vacinação, e só”, afirmou.

Eduardo Pazuello

Teich afirmou que o general Eduardo Pazuello contribuiu para a pasta enquanto ocupou o cargo de secretário-executivo do Ministério da Saúde, mas criticou a posição dele enquanto ministro.

“Eu acho que ele fez o papel dele. Lembro da gente buscando respiradores antes de irem para distribuição. Estava faltando no mundo, era uma competição mundial por equipamentos de proteção individual, por respirador, e eu o via atuando dedicado e conseguindo entregar as coisas”, disse o médico.

Entretanto, na sequência, o ex-ministro criticou a nomeação de Pazuello como titular do pasta. “Na posição de ministro, seria mais adequado um conhecimento maior sobre gestão de saúde”, avaliou. Segundo Teich, ele teve autonomia para formar a equipe do ministério, com exceção de Pazuello na secretaria-executiva. “Mas todas as outras secretarias foram todas mantidas em nível técnico”, explicou.

O ex-titular respondeu ainda se havia interferência feita pelo governo federal na gestão dele. “A única coisa que tinha uma discussão era sobre a cloroquina. Inclusive, quando eu entrei, nunca teve uma coisa específica sobre tentar interferir no que eu fazia”, discursou.

Teich reiterou que não sabia da produção de cloroquina pelo Exército e que sempre manteve orientação contrária ao uso desse e de outros medicamentos sem comprovação científica no enfretamento da crise sanitária. Ele ficou menos de um mês no cargo, e identificou a existência de “um entendimento diferente pelo presidente” sobre o tema.