Dia do Trabalho: Brasil fechou 72 mil vagas para jovens aprendizes durante pandemia

Especialistas apontam que programa é fundamental para a transferência de renda

Foto: Rafael Neddermeyer/Agência Senado

Após pouco mais de um ano desde a chegada da pandemia de Covid-19 no Brasil, 7,8 mil vagas para jovens aprendizes foram fechadas, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Os números foram compilados pela consultoria Kairós de março de 2020 a março de 2021.

Destinado a jovens de 14 a 25 anos de baixa renda, o programa Jovem Aprendiz é considerado por especialistas um dos mais importantes para a diminuição da desigualdade e da evasão escolar.

Para poder trabalhar como aprendiz, os jovens precisam estar estudando e tem até a jornada de trabalho reduzida para garantir que possam continuar seus estudos formais. A lei atual ainda exige que empresas preencham até 5% de suas vagas efetivando participantes da iniciativa.

Os benefícios do programa também são considerados importantes para o combate à fome, que cresceu a níveis alarmantes após a piora da pandemia em 2021. “O salário médio de um aprendiz é de R$ 650 aqui em São Paulo. É um valor maior do que o antigo auxílio emergencial e uma fatia importantíssima da renda familiar com qual eles contribuem”, diz o diretor da Kairós Desenvolvimento Social, Elvis Bonassa.

Um destes exemplos é o da estagiária do Banco Pan, Sara Alves, de 20 anos, que entrou para o mercado de trabalho graças ao programa Jovem Aprendiz. Com os salários ela agora ajuda a mãe, que está desempregada, a comprar alimentos para a casa.

“A gente não tem as mesmas chances que um jovem de classe média que tem acesso às boas escolas e a intercâmbio para aprender um idioma. Mas como aprendiz, a gente pode avançar nos estudos enquanto tem uma renda extra para ajudar a família”, diz.

“Isso é uma realidade muito comum neste cenário de pandemia [jovens aprendizes sustentando a família]. Grande parte deles vêm de lares com uma vulnerabilidade social alta, de uma estrutura familiar comprometida, onde o jovem aprendiz é o único membro que possui um trabalho com carteira assinada”, explica Marcela Toledo, coordenadora da entidade Vocação, que ajuda jovens a se conectarem com a iniciativa.

A aprendiz da Lockton, Neysa Saire, de 18 anos, tem no programa também a garantia dos estudos. A mãe, que trabalha como autônoma, estava com dificuldade de pagar as contas da casa e a faculdade da filha, que estuda Gestão de Marketing.

Com as mensalidades do curso se acumulando, ela precisou parar de estudar por meses, até que arranjou o emprego de aprendiz. Neysa agora vai voltar ao curso no segundo semestre de 2021.

“Estou muito feliz por poder colaborar com a casa. Logo que recebi meu primeiro salário fiz umas compras de alimento e ainda pude ajudar a tia de um amigo meu que estava sem condições de comprar comida”, conta.

Flutuação

Os números mostram que as colocações para jovens aprendizes tiveram saldo negativo durante quase toda a pandemia em 2020, com a exceção dos meses de novembro e março. Abril e dezembro do ano passado foram os piores meses, com taxas de negativas de empregos gerados de -22.505 e -28.583, respectivamente.

O primeiro trimestre de 2021 teve um crescimento histórico para o período, mas ficou longe de recuperar todas as vagas perdidas desde o início dos efeitos da pandemia no mercado de trabalho, em abril do ano passado. Foram 2.836 em janeiro, 27.498 em fevereiro e 13.326 em março.

A comparação com os dados gerais do Caged ainda revelam que o grupo de aprendizes sentiu mais o efeito do que de outros profissionais. Considerando todas as vagas de todas as modalidades de trabalho, as perdas de abril começaram a ser estancadas em julho do ano passado, ainda no auge da primeira onda da pandemia. O crescimento seguiu constante até a nova baixa em dezembro.

“É um programa social de enorme importância que deveria ter tido atenção especial neste momento de pandemia. Não teve, nem do ponto de vista da legislação – não houve nenhuma medida específica para este grupo – e da preocupação real das empresas, que cortaram brutalmente as vagas de jovens aprendizes”, opina Elvis Bonassa.

Para o economista-chefe da G11 consultoria, Hugo Garbe, a tendência para a geração de empregos no resto do ano é positiva. “Espera-se já para 2021 que o processo de vacinação esteja bem avançado, que os reflexos já estejam amenizados. Existe uma perspectiva melhor de 2021 em relação a 2020. Existe um ciclo natural de depressão econômica e depois um boom, uma demanda reprimida”, diz.