Chance de variante do AM escapar de imunidade anterior chega a 46%

Estudo sobre cepa P.1 do coronavírus deixa evidente risco de reinfecção por pessoas que tiveram Covid anteriormente

Foto: Divulgação / NIAID-RML

Um estudo científico publicado nesta quarta-feira na revista Science lista novidades acerca da variante do coronavírus identificada em Manaus (AM) no fim do ano passado. Uma delas é a estimativa de escape dos anticorpos gerados por pessoas que já haviam tido Covid-19. Os autores do artigo calcularam que existe probabilidade entre 21% e 46% de a cepa P.1 conseguir se instalar no organismo de quem já havia sido infectado por uma variante anterior, o que evidencia o risco de reinfecção.

“A P.1 pode ser entre 1,7 vez e 2,4 vezes mais transmissível do que as linhagens não P.1 locais e pode escapar de 21% a 46% da imunidade protetora induzida por infecção anterior com linhagens não-P.1, correspondendo de 54% a 79% de imunidade cruzada”, explicaram os pesquisadores.

Os cientistas citaram a diminuição da imunidade natural da população de Manaus em novembro de 2020, cerca de seis meses após o primeiro pico da pandemia do Amazonas. Mas acrescentaram que essa queda dos anticorpos “por si só não é capaz de explicar a dinâmica observada” na cidade.

O grupo atribuiu como possível explicação as “características epidemiológicas” da cepa mutante. “Nossos resultados sugerem que as características epidemiológicas de P.1 são diferentes daquelas das linhagens locais de SARS-CoV-2 que circulavam anteriormente”, publicaram os pesquisadores.

A maior transmissibilidade da P.1 é atribuída a um trio de mutações na proteína spike (por onde o coronavírus se liga aos receptores de células humanas). Os autores chamaram atenção para o fato de as mutações também estarem presentes na cepa B.1.351, identificada no ano passado na África do Sul.

Inicialmente, chegou-se a suspeitar de uma carga viral até dez vezes mais elevada, na P.1, do que na infecção pelas cepas tradicionais do SARS-CoV-2. O estudo publicado hoje na Science, todavia, não conseguiu “distinguir se a infecção P.1 está associada a cargas virais aumentadas ou a uma duração mais longa da infecção”.

Por fim, os pesquisadores alertaram para o fato de a variante de Manaus estar “se espalhando rapidamente pelo Brasil” e pelo mundo. Eles também recomendaram um aumento da vigilância genômica — única forma de identificar rapidamente novas cepas — e de testes para saber o desempenho contra a P.1. das vacinas já em uso.